Extradiçao de CHANG para EUA continua a incomodar a Frelimo*
*segundo avança agencia LUSA, o governo moçambicano terá pedido directamente ao ministro sul-africano da justiça a extradiçao de CHANG para moçambique
Joanesburgo, 12 mar (Lusa) - O governo de Moçambique pediu diretamente ao ministro da Justiça da África do Sul a extradição do ex-ministro das Finanças Manuel Chang para o seu país, apelando a Pretória que tenha "a consideração devida" no assunto.
O
pedido consta de uma carta, datada de 01 de fevereiro de 2019 e a que a
agência Lusa teve acesso, endereçada pelo ministro dos Negócios
Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, José Pacheco, ao ministro da
Justiça e Serviços Prisionais da África do Sul, Michael Tshililo
Masutha.
"Tenho a honra de submeter à sua
consideração os documentos em anexo relativos ao pedido da República de
Moçambique, [para] a extradição do Sr. Manuel Chang, detido na República
da África do Sul no dia 29 de dezembro", lê-se no documento emitido
pelo gabinete do chefe da diplomacia moçambicana e intitulado "Pedido de
Extradição do Sr. Manuel Chang".
"Nós
esperamos que as autoridades sul-africanas irão ter a consideração
devida sobre este assunto", salienta depois José Pacheco ao governante
do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), no poder desde
1994 na África do Sul.
A missiva do chefe da diplomacia moçambicana não menciona quais são "os documentos em anexo".
Na
mesma data, 01 de fevereiro, o ministério dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação de Moçambique solicitou ao Alto Comissariado da República da
África do Sul o reencaminhamento da documentação com "carácter de
urgência", sem especificar o assunto e os documentos em anexo.
"O
Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação da República de
Moçambique (...) solicita ao Alto Comissariado a reencaminhar com
carácter de urgência os documentos em anexo às autoridades relevantes na
África do Sul", lê-se na carta do MNE moçambicano endereçada ao Alto
Comissariado da República da África do Sul, em Maputo, inserida no
processo.
A carta do governante do partido
Frelimo, escrita em inglês, foi datada e referenciada manualmente com
[Ref Nº] "215" e "1st" [February 2019], respectivamente, e consta de um
requerimento de 68 páginas ao Estado sul-africano, apresentado
segunda-feira, 11 de março, por Manuel Chang ao juiz do tribunal de
Kempton Park, que acompanha o pedido dos Estados Unidos para a sua
extradição.
De acordo com o documento,
consultado pela Lusa, Manuel Chang requere que o ministro da Justiça
sul-africano determine para qual dos Estados concorrentes [EUA e
Moçambique] deve ser extradidato.
"O
magistrado não tem a jurisdição para determinar qual dos dois ou mais
pedidos concorrenciais para a extradição da mesma pessoa deve
prevalecer, uma vez que esta decisão resta apenas no domínio da
autoridade executiva [o ministro da Justiça]", adianta Manuel Chang.
"(...)
O Estado tenciona proceder com o pedido de extradição dos EUA por forma
a garantir uma decisão de que sou extraditável para os Estados Unidos. E
depois disso, o mesmo processo repetir-se-á em relação ao pedido
moçambicano", salienta.
"Não tenho
intenções de opor-me ao pedido para a minha extradição para Moçambique,
mas irei de facto opor-me ao pedido dos EUA", afirma Chang.
"Estou
detido sob custódia desde 29 de dezembro de 2018, na sequência de um
pedido dos EUA para a minha detenção provisória no termos do artigo 13.º
do tratado EUA/África do Sul. O procedimento proposto pelo Estado
[sul-africano] tem o potencial de atrasar consideralvemente os
procedimentos, o que me prejudicará irremediavelmente", afirma o
ex-governante moçambicano.
"Nesse sentido, rezo por uma instrução nos termos do requerimento que acompanha esta declaração", conclui Manuel Chang.
Na
sua declaração ao governante sul-africano, Manuel Chang explica que dos
dois pedidos de extradição concorrenciais, "o primeiro, dos Estados
Unidos, foi entregue pela sua embaixada em Pretória, África do Sul, sob
nota diplomática 0152/19 ao ministério das Relações Internacionais e
Cooperação (DIRCO, sigla em inglês) no dia 28 de janeiro de 2019, da
qual os [seus]advogados receberam uma cópia entregue pela procuradora do
Ministério Público Eliviera Dreyer".
Segundo
o requerimento de Manuel Chang, a nota diplomática da embaixada
norte-americana foi enviada Mministério da Justiça e Desenvolvimento
Constitucional, dois dias depois, a 30 de Janeiro de 2019, indica uma
nota do DIRCO enviada à Justiça sul-africana que acompanhava a
documentação da embaixada norte-americana em Pretória.
Sobre
o pedido de extradição de Moçambique, Manuel Chang escreve que "o
segundo, por Moçambique, foi entregue ao Ministério da Justiça e
Desenvolvimento Constitucional no dia 1 de fevereiro de 2019, na
sequência de uma carta nesse sentido da Procuradora-Geral de Moçambique
endereçada ao ministro da Justiça e Desenvolvimento Constitucional [da
África do Sul], da qual os meus advogados receberam igualmente uma cópia
do procurador do Estado".
O requerimento
apresentado segunda-feira por Manuel Chang inclui ainda uma nota do
DIRCO, intitulada "Moçambique: pedido para extradição: Manuel Chang", a
solicitar no dia 8 de fevereiro ao diretor-geral no Ministério da
Justiça e Desenvolvimento Constitucional que "reencaminhe para as
autoridades relevantes" uma "nota verbal" do Alto Comissariado de
Moçambique em Pretória.
Todavia, em carta
enviada no dia 15 de fevereiro à diretora nacional do Ministério
Público, a advogada Shamila Bathoi, a informar com caracter de urgência
sobre o pedido de Moçambique para a extradição de Manuel Chang, o
diretor-geral no Ministério da Justiça, Vusi Madonsela, afirma que "no
dia 11 de fevereiro de 2019, o Ministério das Relações Internacionais e
Cooperação reencaminhou uma 'nota verbale' com um pedido anexado para a
extradição do Sr. Chang tal como foi recebido do Alto Comissariado da
República de Moçambique, em Pretória".
Em
21 de fevereiro, o porta-voz do Ministério da Justiça e Serviços
Prisionais, Max Mpuzana, disse que a extradição do ex-ministro das
Finanças moçambicano só acontecerá depois de concluído o processo
judicial, contrariando declarações da chefe da diplomacia sul-africana.
"Os
dois pedidos de extradição [dos EUA e de Moçambique] foram encaminhados
para os nossos tribunais para uma determinação, tal como é requerido
pela nossa lei. A decisão final será feita quando se concluir o processo
que corre nos tribunais", declarou Max Mpuzana à agência noticiosa
Bloomberg.
A ministra das Relações
Internacionais e Cooperação da África do Sul, Lindiwe Sisulo, disse em
entrevista ao jornal sul-africano Daily Maverick que Manuel Chang será
repatriado para Moçambique e não será extraditado para os EUA, onde é
procurado pela justiça norte-americana.
"Vamos enviá-lo para Moçambique e acreditamos que essa é a coisa mais fácil de fazer para todos", declarou.
O
deputado e antigo ministro das Finanças Manuel Chang encontra-se detido
na África do Sul desde 29 de dezembro de 2018 à luz de um mandado
internacional emitido pela justiça dos Estados Unidos, que pede a sua
extradição, no âmbito da sua investigação às dívidas ocultas em
Moçambique.
Chang foi vice-ministro do
Plano e Finanças entre 2000 e 2004, no executivo de Joaquim Chissano e
ministro das Finanças nos dez anos do Governo de Armando Emílio Guebuza
entre 2005 e 2015.
De acordo com a acusação
norte-americana, Manuel Chang recebeu alegadamente milhões de dólares
em subornos em troca de dívidas secretamente contraídas pelo Estado
moçambicano, sem o conhecimento do parlamento, entre 2013 e 2014, de
mais de dois mil milhões de dólares a favor de três empresas públicas
(Ematum, Proindicus e MAM) criadas para o efeito em Moçambique.
CYH // JH
Lusa/Fim
*da autoria do blog
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