Governo moçambicano contrata advogados para impedir extradição de Chang
O
Governo moçambicano anunciou hoje a intenção de se opôr ao recurso do ministro
da Justiça sul-africano e do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) e insistir
no pedido de extradição do ex-ministro Manuel Chang para Maputo.
Em carta enviada
esta tarde às três partes envolvidas no caso de extradição do ex-ministro das
Finanças de Moçambique, a que a Lusa teve acesso, o executivo do Presidente
moçambicano, Filipe Nyusi, instruiu o escritório de avogados Mabunda
Incorporated, em Bedfordview, Joanesburgo, a intervir em nome do Estado
moçambicano no sentido de persuadir Pretória a reconsiderar a extradição de
Manuel Chang para o seu país
Recebemos
instruções para intervir em nome do Governo moçambicano para opôr o pedido
apresentado pelo Fórum de Monitoria do Orçamento, o pedido do ministro da
Justiça e Serviços Correcionais, e submeter um novo pedido para a extradição do
Sr. Chang para Moçambique", lê-se na carta de duas páginas enviada por
email aos advogados de Manuel Chang, do FMO e do Estado sul-africano.
"Alternativamente,
que a decisão de extraditar o Sr. Chang (...) seja remetida ao ministro da
Justiça e Serviços Correcionais para reconsideração e determinação com base na
informação e factos recentes que serão apresentados e argumentados na audiência
e/ou posteriormente à audiência ao invés da informação apenas disponibilizada
ao anterior ministro quando tomou a decisão", adianta a nota.
Os advogados
mandatados pelo executivo moçambicano argumentam também que "a preparação
do processo tem demorado mais tempo do que o previsto porque os representantes
governamentais são falantes de português (...) e encontram-se atualmente no
estrangeiro a atender assuntos urgentes do Governo".
"Por isso, a
documentação só poderá ser finalizada na próxima semana", refere a carta.
Na missiva, os
advogados sul-africanos informam que o Governo de Maputo pretende
"solicitar ao vice-juiz presidente que considere alocar uma nova data à
audiência do caso", propondo nesse sentido a data de 03 de setembro de
2019.
O Tribunal
Superior de Gauteng, em Joanesburgo, agendou para 13 de agosto a audiência
sobre o caso de extradição do ex-ministro das Finanças de Moçambique Manuel
Chang, disse à Lusa Denise Namburete, coordenadora do Fórum de Monitoria do
Orçamento (FMO), plataforma que agrega 21 organizações da sociedade civil
moçambicana.
Numa petição
enviada em meados deste mês à justiça sul-africana, o atual ministro da Justiça
e Serviços Correcionais da África do Sul, Ronald Lamola, afirma não compreender
o pedido de extradição de Moçambique sobre Manuel Chang, porque o ex-ministro
das Finanças goza de imunidade como deputado da Assembleia da República e ainda
não é alvo de uma acusação formal.
A posição de
Ronald Lamola contraria a decisão do seu antecessor Michael Masutha, que tinha
decidido pelo repatriamento de Manuel Chang para Moçambique em detrimento da
pretensão da justiça norte-americana.
O antigo ministro
das Finanças de Moçambique Manuel Chang renunciou à função de deputado à
Assembleia da República e perdeu a imunidade inerente ao cargo, anunciou em 24
de julho a presidente do parlamento moçambicano, Verónica Macamo.
Manuel Chang está
detido desde 29 de dezembro do ano passado na África do Sul, por fraude e
corrupção a pedido da justiça norte-americana, que pretende julgar o
ex-governante pelo seu papel no escândalo das dívidas ocultas em Moçambique.
Chang é também
alvo de um pedido de extradição da justiça moçambicana, que também quer ouvir o
ex-ministro das Finanças no referido caso.
A detenção e
pedido de extradição de Manuel Chang estão relacionados com o seu papel na
prestação de avales do anterior Governo moçambicano para a contração de pouco
mais de dois mil milhões de dólares de dívidas (mais de 1,7 mil milhões de
euros) a favor de empresas públicas de segurança marítima e pesca, à revelia da
Assembleia da República e do Tribunal Administrativo.
A operação que
levou às dívidas ocultas é alvo de processos judiciais em Moçambique e nos EUA,
que considera que a legislação do país foi violada, e várias pessoas, incluindo
banqueiros internacionais, estão detidas por alegado envolvimento no escândalo.
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