Presidente do INE demite-se após recenseamento polémico em Gaza
Em entrevista ao Semanário Savana, o presidente do Instituto Nacional de
Estatística (INE) de Moçambique afirma que enviou carta de demissão ao
primeiro-ministro. "Coerência e princípios" estão entre as
razões.
O presidente do
Instituto Nacional de Estatística (INE) de Moçambique, Rosário Fernandes,
demitiu-se após a polémica sobre o número de eleitores recenseados na província
de Gaza, no sul do país. A informação circula na imprensa moçambicana, que cita
entrevista do titular ao Semanário Savana, publicado esta sexta-feira (23.08).
Contactado pela
agência de notícias Lusa, Rosário Fernandes disse que só vai pronunciar-se
"após o despacho presidencial com a exoneração ou nomeação" de outra
pessoa para ocupar o cargo.
O jornal
moçambicano O País, que cita a entrevista do Savana, afirma que Rosário
Fernandes também apresentou a sua intenção ao ministro da Economia e Finanças,
Adriano Maleiane, que tutela o INE.
"Comuniquei
o meu interesse de estar fora da instituição. Quero sair de forma pacífica, sem
perseguições, com consciência de que dei o meu contributo para o país",
lê-se no trecho da entrevista citado pelo O País.
As razões para
sua saída têm a ver com "coerência e princípios", disse Rosário
Fernandes ao Savana, que por sua vez aponta a polémica dos últimos meses como a
razão.
Polémica do
recenseamento
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou em junho ter
recenseado 1,1 milhões de eleitores na província de Gaza, o que equivale a
dizer que 80% da população é maior de 18 anos, quando os dados do INE indicam
que ali existem 836 mil pessoas em idade eleitoral, ou seja, 329 mil a menos.
Os resultados do
recenseamento estão a ser contestados por organizações da sociedade civil e
partidos políticos da oposição por supostamente conterem um número de eleitores
fictício.
A controvérsia
agudizou-se com a posição do INE que afirmou publicamente em julho que os
números apresentados pelos órgãos eleitorais só serão possíveis em 2040. A
província do sul do país tem votado maioritariamente na Frente de Libertação de
Moçambique (FRELIMO), partido no poder.
A situação levou
o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, a questionar publicamente, há uma
semana, a disparidade entre os números do INE e das autoridades eleitorais.
"Porquê é
que as estatísticas da sede do ministério são diferentes do Instituto Nacional
de Estatística", perguntou, durante a inauguração de novas instalações do
Ministério da Economia e Finanças, em Maputo. Logo depois respondeu:
"significa que não há trabalho sério a ser feito. Falem antes de dizer o
que é, não é cada um dizer-nos o que pensa ou o que quer".
As
eleições legislativas de 15 de outubro vão decorrer em simultâneo com as
presidenciais e para as assembleias provinciais, que pela primeira vez terão
governadores eleitos e não nomeados pelo poder central, como acontece
atualmente
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