Corrupto disfarçado
PGR, Augusto
Paulino. São pessoas ricas sem provenência do dinheiro justificado e nunca
ganharam lotaria. Reestruturação da Ematum continua a ser contestada. Dívida Pública
face ao PIB dispara para 116.6%.
Aos 30 anos da
Procuradoria- -Geral da República (PGR), Augusto Paulino olha para trás e
conclue haver interesses para combater a corrupção, mas deplora “iminentes
interesses escusos”. Em palestra alusiva à efeméride, Paulino diz que o
fenómeno corrupção lesa Moçambique em milhões de meticais e alerta para se ter
cuidado com os que falam sobre a corrupção, por haver quem “nos acompanha a
falar mal do fenómeno, para disfarçar o seu envolvimento”.
A constatação é
simples. Se assistem homens ricos, sem a proveniência do dinheiro justificado e
nunca ganharam lotaria. A PGR hoje tem estado a registar avanços
significativos, segundo Augusto Paulino, ontem em Maputo. Restruturação da
dívida Carlos Nuno Castel-Branco entende que o governo devia se abster da
restruturação das dívidas ocultas, depois de o Conselho Constitucional (CC)
considerar nula a dívida da Ematum. “A dívida pública ilícita é ilícita e é
também ilícito o Estado estar a assumir essa dívida”, Carlos Nuno Castel-Branco,
à margem de uma conferência do Instituto de Estudos Sociais e Económicos
(IESE).
O economista e
académico considera contraproducente que as autoridades moçambicanas mostrem
disponibilidade para ressarcir os credores daquelas dívidas, quando o CC e a
PGR já declararam que os encargos foram assumidos pelo anterior governo à
margem da lei. “Não lhes vale de muito [às autoridades judiciais] estarem a
prender os hipotéticos autores das dívidas e aos seus eventuais mandantes, se
os cidadãos tiverem de pagar essas dívidas”, frisa Castel-Branco.
Os moçambicanos
não autorizaram nem beneficiaram das dívidas ocultas, insiste Carlos Nuno
Castel-Branco. “É interessante como na acção governativa é mais importante a
defesa dos interesses financeiros dos especuladores do que a soberania,
legalidade e democracia de Moçambique”, frisa.
No início de
setembro, os portadores de títulos soberanos de Moçambique aprovaram a
reestruturação da dívida de 726,5 milhões de dólares que teve origem na empresa
pública Ematum, anunciou o governo em 09 de setembro. “A proposta foi aprovada
por meio de uma deliberação escrita dos obrigacionistas detentores de 99,5% do
valor agregado do capital das notas existentes em dívida”, lê-se em comunicado
do Ministério da Economia e Finanças. O documento adianta que o voto favorável
“inclui o Grupo Global de Obrigacionistas de Moçambique”, que representa 68%
dos títulos e que já tinha declarado apoio à proposta, restando chegar aos 75%
de votos favoráveis para a reestruturação ter efeito, fasquia que foi superada.
“A resolução escrita entrará em vigor após a satisfação das condições de
liquidação e espera- -se que a distribuição inicial dos direitos ocorra no dia
30 de setembro de 2019”.
O caso das
dívidas ocultas está relacionado com as garantias prestadas pelo anterior
executivo moçambicano, durante os mandatos de Armando Guebuza, a favor de
empréstimos de cerca de 2,2 mil milhões de dólares para as empresas públicas
Ematum, MAM e Proindicus. A justiça moçambicana e a justiça norte-americana, que
também investiga o caso, consideram que parte desse dinheiro foi usada para o
pagamento de subornos a cidadãos moçambicanos e estrangeiros.
Dívida pública
para 116,6%
A consultora
FocusEconomics antevê um crescimento de 0,4% no país e um aumento do rácio da
dívida pública face ao PIB para 116,6%, agravando as previsões macroeconómicas
e orçamentais feitas no relatório anterior. “O crescimento económico deverá
abrandar fortemente este ano, num contexto de destruição desencadeado pelos
ciclones tropicais Idai e Kenneth”, escrevem os analistas na mais recente nota
sobre a evolução das economias africanas. No relatório, enviado aos clientes e
a que a Lusa teve acesso, os analistas escrevem que “a actividade económica
deverá recuperar fortemente no próximo ano, em parte devido aos efeitos dos
esforços de reconstrução”, o que fará o crescimento económico abrandar para
0,4% este ano e crescer 4,3% em 2020.
Os analistas têm
revisto em baixa o crescimento de Moçambique desde o início do verão, à medida
que se materializam os efeitos devastadores dos ciclones na economia real. “A
economia perdeu fôlego no segundo trimestre, com o crescimento a abrandar para
quase o mínimo dos últimos dois anos, crescendo 2,3%”, escrevem, apontando que
“a produção agrícola, que representa mais de um quarto do PIB, estagnou devido
à destruição de milhares de hectares de colheitas, arrastando a produção
económica global”. Sobre o acordo de reestruturação com os credores alcançado
no princípio do mês, a FocusEconomics comenta que isso deverá “dar ao governo
um significativo alívio em termos de fluxo de caixa”, o que permite mais
despesa pública em áreas que o governo considere prioritárias.
Os portadores de
títulos soberanos de Moçambique aprovaram a reestruturação da dívida de 726,5
milhões de dólares que teve origem na empresa pública Ematum, anunciou o
governo a 9 de setembro. “A proposta foi aprovada por meio de uma deliberação
escrita dos obrigacionistas detentores de 99,5% do valor agregado do capital
das notas existentes em dívida”, lê-se em comunicado do Ministério da Economia
e Finanças, que adianta que o voto favorável “inclui o Grupo Global de
Obrigacionistas de Moçambique”, que representa 68% dos títulos e que já tinha
declarado apoio à proposta, restando chegar aos 75% de votos favoráveis para a
reestruturação ter efeito – fasquia que foi superada. “A resolução escrita
entrará em vigor após a satisfação das condições de liquidação e espera-se que
a distribuição inicial dos direitos ocorra no dia 30 de setembro de 2019”,
acrescenta o comunicado.
EXPRESSO
– 20.09.2019
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