Dívidas ocultas: Nhangumele foi interrogado pelo FBI
Teófilo Nhangumele, um dos arguidos mais
sonantes do caso das dívidas ocultas, foi interrogado, a 29 de Janeiro deste
ano, por agentes do Federal Bureau of Investigation (FBI), no âmbito do referido
escândalo. A colaboração de Teófilo Nhangumele com a justiça norte-americana é
mencionada em documentos submetidos pela defesa de Jean Boustani, negociador da
firma de estaleiros Privinvest, ao United State District Court foi the Estern
District of New York.
Nhangumele terá fornecido pormenores importantes do esquema de corrupção
ocorrido no âmbito das chamadas dívidas ocultas, referem as peças da firma
Willkie Farr and Gallagher LLP, que defende Jean Boustani.
Na altura, o arguido teria dito que se desconhecia o destino que teria sido
dado ao dinheiro dos subornos, porque os funcionários do Governo envolvidos no
esquema limitaram-se apenas a afirmar que as verbas eram dirigidas ao Serviço
de Informação e Segurança do Estado (SISE).
O dinheiro não era dirigido ao pagamento de subornos, terá afiançado
Teófilo Nhangumele. A equipa de defesa de Jean Boustani acusa os procuradores
norte- -americanos de terem ocultado os depoimentos prestados por Teófilo
Nhangumele aos agentes do FBI privando o seu cliente de informação essencial
para a sua defesa.
“O modo como o Governo [acusação] está a tratar a informação relacionada
com Teófilo Nhangumele representa uma terrível violação da mais importante
regra ética do nosso sistema de justiça de protecção de pessoas acusadas de
prática de crimes”, refere-se na “moção” escrita pela defesa .
No lugar de divulgar prontamente essas informações [obtidas de Teófilo
Nhangumele], como impõe a Constituição, o Governo americano guardou-as seladas,
durante todo o tempo em que os investigadores faziam o seu trabalho,
preparando-se para o julgamento, lê-se no texto.
O texto cita uma decisão do Tribunal Supremo norte-americano que diz que,
em caso de existência de informação absolutória, a acusação deve fornecer essa
informação à defesa.
Os advogados de Jean Boustani censuraram o facto de o Governo divulgar as
informações prestadas por Teófilo Nhangumele a alguns meses do julgamento e com
base em dados fornecidos por uma pessoa detida há milhares de quilómetros, em
Moçambique.
O “timing” da divulgação das referidas informações não favorece uma audição
de Teófilo Nhangumele por parte dos advogados de Jean Boustani, dizem os
advogados. O arguido moçambicano teria dittoaos investigadores norte-americanos
que Jean Boustani falou da mobilização de 50 milhões de dólares. Nhangumele foi
interrogado por Fannel A. Binder e por Matthew Musselwhite, agentes do FBI
afectos à embaixada norte-americana em Maputo, refere-se na peça da defesa. O
SAVANA tentou em vão confirmar se os agentes que interrogaram Nhangumele por
três vezes são efectivamente funcionários da embaixada ou vieram a propósito.
No mês seguinte ao interrogatório, mais precisamente a 12 de Fevereiro, o
arguido foi preso em Maputo por ordens do Ministério Público moçambicano.
Depoimento de Nhangumele é
inválido
A defesa do antigo empregado da Privinvest e sobrinho de Iskandar Safa
exigiu que o conteúdo das declarações de Teófilo Nhangumele seja considerado
inválido, porque o arguido nunca foi funcionário do Estado e os subornos que
teria recebido não podem ser considerados criminosos, à luz da Lei contra
Práticas de Corrupção Externa (FCPA, na sigla inglesa).
Por outro lado, consideram os advogados da Willkie Farr and Gallagher LLP,
o conhecimento dos depoimentos prestados por Teófilo Nhangumele a poucos meses
do julgamento priva Jean Boustani do direito à plena defesa.
“Nhangumele não pode ser considerado um funcionário público e, portanto, os
subornos que tenha recebido não podem ser considerados ilegais, à luz da FCPA”,
refere o texto da peça processual submetida pelos advogados do negociador
franco-libanês.
Insistindo no facto de que Teófilo Nhangumele não deve ser tratado como
funcionário do Governo moçambicano e logo não está coberto pela FCPA, os
advogados de Jean Boustani afirmam que o próprio arguido moçambicano afirmou
nas declarações ao FBI que nunca trabalhou para o executivo moçambicano.
“O tribunal deve travar o argumento do Governo de que Teófilo Nhangumele é
funcionário público moçambicano, porque essa informação é falsa e o Governo tem
a consciência de que é falsa”, lê-se na peça submetida pelos advogados ao
tribunal.
Defesa não quer jurista
portuguesa
Na sequência da batalha jurídica que trava para salvar Jean Boustani, a
defesa do arguido recusa a presença da magistrada portuguesa Helena Susano como
testemunha da acusação da justiça norte-americana, que considera a jurista uma
especialista em legislação penal moçambicana.
“A indicação pelo Governo de um juiz
europeu que nunca julgou, processou ou defendeu um caso em Moçambique é uma
base insuficiente para se prosseguir com a acusação de que o senhor Boustani se
envolveu numa conspiração de lavagem de dinheiro para promover ou ocultar o
produto de uma legislação anti-corrupção de Moçambique”.
A defesa do antigo funcionário da Privinvest desvaloriza o facto de Helena
Susano se assumir como coordenadora de uma obra intitulada “Direito Penal e
Processual de Moçambique”, porque a mesma não se debruça sobre a corrupção,
dado que versa, pelo contrário, sobre o processualismo penal.
“Existem várias escolas de Direito em Moçambique, uma Ordem dos Advogados
activa, com advogados capazes e que conhecem o direito penal moçambicano
diariamente e um elenco de juristas aposentados”, que podem fazer mais e melhor
a bem do caso do que Helena Susano, lê-se no texto.
In: Savana
20.09.2019
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