Moçambique: o “fim da história”... única Trajectórias dos anticolonialismos em Moçambique* por Michel Cahen(2011)
O livro
“hostil” de João M. Cabrita sobre a história da Frelimo, Mozambique. The
Tortuous
Road to Democracy (Houndmills, Basingstoke – Nova Iorque, Palgrave, 2000, 312
p.) já
tinha dado um pouco de polémica (cf. Lusotopie 2002, I: 391-393). No entanto,
publicado
em inglês por um Português nascido em Moçambique e radicado na Swazilândia, o
livro
tinha tido uma circulação restrita no país. Com Barnabé Lucas Ncomo, pode-se
dizer
que a situação foi bem diferente. Raramente um livro dum autor moçambicano
editado
em Moçambique, terá feito correr tanta tinta, se se tomar em conta o número de
artigos,
entrevistas, correspondências, publicados na imprensa do país de Maio (antes
mesmo
do lançamento da obra) a Setembro de 2004. Sérgio Vieira, teórico não
arrependido do
partido único dito “marxista-leninista”, que tinha conseguido o texto, lançou a
ofensiva
anti-Ncomo antes mesmo da publicação1, utilizando erros evidentes da
obra para a caricaturar grosseiramente e desconsiderar o trabalho paciente
do seu autor, cometendo por sua vez erros (ou mentiras) inverosímeis2.
Mas, esta carga teve como efeito aumentar
uma publicidade que já se fazia só de ouvir falar, e na imprensa independente.
O lançamento teve lugar no Centro cultural franco-moçambicano de Maputo,
terça-feira dia 27 de Julho, no auditório, cheio de setecentas pessoas, na
ausência de membros do governo e históricos da Frelimo, no entanto
convidados, e também sem que a obra possa ser apresentada por cinco dos
académicos sucessivamente soilicitados. Finalmente, é o sexto académico,
Dionísio Quelhas, membro da Renamo, que abriu a sessão, mas igualmente na
ausência de qualquer dignitário do seu partido que, como principal formação da
oposição poderia, neste período da campahna eleitoral, ter-se lançado
sobre a fortuna duma obra que fala dos crimes do partido no poder...
Alguns dias mais tarde, em Agosto, um segundo lançamento teve lugar na
Beira, capital da região centro, de onde Uria Simango era originário. Mesmo a
edição do livro foi difícil, os editores existentes em
Maputo esquivando-se, obrigando o autor a fundar expressamente uma casa de
edição. Dos nove spots publicitários na TVM, já pagos, seis sofreram um
problema técnico que impediram a sua difusão para o lançamento em Maputo,
mas também para o lançamento, dias mais tarde, na Beira.
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