EUA retiram seu espião na Rússia


WASHINGTON e MOSCOU — A CIA, central de inteligência dos Estados Unidos, cultivou por décadas um espião dentro do governo russo que acabou se tornando uma figura importante no Kremlin , informou nesta terça-feira a imprensa americana, acrescentando que o agente foi retirado da Rússia —  ou extraído , segundo o jargão da espionagem —  por razões de segurança e está em local desconhecido. O governo russo confirmou a existência do espião, mas minimizou seu papel, classificando a informação de que ele teria acesso ao presidente Vladimir Putin de  " ficção barata ".
O informante teria sido recrutado pelo governo americano há décadas , quando era apenas um funcionário de nível intermediário no Kremlin. Com os anos, entretanto, ele teria sido promovida a cargos importantes em Moscou e, apesar de não fazer parte do círculo próximo de Putin, encontrava-se regularmente com o presidente e tinha bastante acesso à tomada de decisões presidenciais.
Conforme o governo americano começou a perceber que a Rússia tentava interferir nas eleições presidenciais de 2016, o homem transformou-se em uma das fontes principais — e mais protegidas — da CIA. Mais tarde naquele mesmo ano, quando começaram a vir à tona mais informações sobre o suposto papel exercido por Moscou na campanha que acabou com a eleição de Donald  Trump, a imprensa começou a descobrir detalhes sobre a identidade das fontes da CIA no Kremlin, pondo-as em risco.
A CIA teria tentado retirar o espião no final de 2016, mas ele teria recusado , alegando razões familiares — algo que gerou questionamentos em Washington sobre sua lealdade. Segundo a CNN, que divulgou a notícia em primeira mão na segunda-feira, o assunto teria voltado à tona após o presidente americano discutir informações altamente sigilosas com o chanceler Sergei Lavrov e o então embaixador russo nos EUA, Sergei Kislyak.
Apesar de a conversa ter sido sobre o Estado Islâmico, a reunião ressuscitou discussões sobre o risco de exposição dos informantes americanos. Na ocasião, o então diretor da CIA, Mike Pompeo, teria dito a outros funcionários da alta cúpula americana que muitas informações sobre a fonte no Kremlin estavam sendo divulgadas. Desta vez, o homem concordou em ser "extraído" de Moscou.
Informações sigilosas
Segundo a CNN, o espião teria sido retirado de Moscou, em parte, por preocupações de que sua identidade pudesse ser posta em risco pela recorrente falta de cuidado de Donald Trump e seu governo com informações sigilosas. O New York Times, contudo, disse não haver evidências de que o presidente teria posto o informante diretamente em risco e que o crescente escrutínio midiático sobre a CIA teria sido suficiente para sua retirada.
Ainda assim, ex-funcionários da Inteligência americana ouvidos pelo NYT afirmaram que as reuniões a portas fechadas de Trump com Putin e outros funcionários russos, junto com seus tuítes sobre assuntos delicados, são fonte de preocupação para infiltrados no exterior.
— Nós temos um presidente que, diferentemente de qualquer outro presidente na história moderna, está disposto a utilizar informações sigilosas e sensíveis do modo que achar adequado — disse Steven L. Hall, ex-funcionário da CIA que dirigiu as operações referentes à Rússia. — Ele o faz na frente de nossos adversários. Ele o faz em tuítes. Nós estamos em águas nunca antes navegadas.
"Ficção barata"
   Nesta terça-feira, o jornal diário russo Kommersant divulgou que o espião em questão seria, supostamente, um homem chamado Oleg Smolenkov, que desapareceu com sua mulher e três filhos enquanto passava férias em Montenegro e estaria agora morando no estado da Virgínia, nos EUA, onde fica a sede da CIA. O jornal publicou ainda uma foto da casa que teria sido comprada por Smolenkov e detalhes sobre o preço, endereço e documentos fiscais relacionados ao imóvel.
   Moscou, por sua vez, classificou os relatos americanos de "ficção barata" e disse que Smolenkov trabalhou, de fato, na Presidência russa, mas que nunca ocupou um cargo sênior e teria sido demitido entre 2016 e 2017. Separadamente, o chanceler russo, Sergei Lavrov, disse nunca ter ouvido falar de Smolenkov.
   — Toda essa especulação da mídia americana sobre quem foi extraído com urgência e quem foi salvo de quem e por aí vai, isso está mais no gênero ficção barata, leituras sobre crimes, então vamos deixar isso para eles — disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin.

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