A Fundação Helen Suzman pede em tribunal extradição de Manuel Chang para EUA
A Fundação Helen
Suzman, que se constituiu como assistente no processo do ex-ministro
moçambicano Manuel Chang, defendeu hoje a extradição para os Estados Unidos,
argumentando que Moçambique não garante o julgamento do antigo governante, no
caso das dívidas ocultas.
Falando na
abertura da audição de dois dias, pelo Tribunal Superior da África do Sul,
divisão de Gauteng, em Joanesburgo, sobre a revisão da decisão de extraditar o
ex-governante Manuel Chang para Moçambique, Du Plessis, advogado da Fundação -
na qualidade de 'amicus curae' (amigo do tribunal) - questionou a
"racionalidade" da decisão do antigo ministro da Justiça da África do
Sul Michael Masutha de extraditar Manuel Chang para Moçambique.
O ex-governante e
ex-deputado moçambicano foi detido em Joanesburgo a 29 de dezembro a pedido da
justiça dos Estados Unidos, quando viajava para o Dubai, sob acusação de
fraude, corrupção e lavagem de dinheiro de 2,2 mil milhões de dólares.
O caso é inédito
na África do Sul por envolver dois pedidos concorrenciais de extradição, dos
Estados Unidos da América e de Moçambique.
O advogado
sul-africano, que representa a organização não-governamental Helen Suzman,
defendeu que o ex-ministro da Justiça sul-africano “tinha obrigações
constitucionais para decidir sobre a extradição [de Manuel Chang] como um
mecanismo de cooperação por forma a cumprir as obrigações internacionais” da
África do Sul.
Michael Masutha
anunciou a decisão de extraditar Manuel Chang para Moçambique em 21 de maio,
último dia do seu mandato ministerial.
“O ministro
deveria ter analisado melhor o caso e os potenciais impedimentos”, afirmou hoje
Du Plessis perante o painel de juízes no Tribunal Superior de Gauteng,
província envolvente a Joanesburgo.
De acordo com a
Fundação Helen Suzman, “o impedimento da imunidade foi um erro crasso em termos
de racionalidade e o ministro sabia que à luz do protocolo da SADC [Comunidade
de Desenvolvimento da África Austral] a imunidade constituía um problema”.
“O ministro não
deveria extraditar para um país onde existe um problema com a questão da
imunidade, mas sim para o país onde o julgamento do indivíduo será garantido tendo
em conta os dois pedidos concorrenciais (dos Estados Unidos e de Moçambique)
(…) O ministro falhou em reunir os factos corretos”, salientou.
“Porque
Moçambique, nos seus documentos apresentados ao tribunal, demonstrou que não
garantia o julgamento (de Manuel Chang)”, adiantou Du Plessis.
Na sua
intervenção, o advogado instou a África do Sul a garantir o julgamento efetivo
da corrupção, quer a nível interno como internacional, à luz das suas
obrigações internacionais.
“O Estado
[sul-africano] está obrigado pela legalidade e que os tribunais irão policiar a
racionalidade das decisões políticas”, sustentou.
“A corrupção não
é um crime comum, mas sim um crime transnacional semelhante ao terrorismo e
neste contexto a África do Sul tem o dever de processar ou de extraditar para
garantir o combate efectivo do crime à luz dos tratados internacionais de que a
África do Sul é signatária”, declarou Du Plessis.
A audição à
decisão de extraditar Manuel Chang para Moçambique é presidida por um coletivo
de três juízes que analisa durante o dia de hoje e quinta-feira os argumentos
apresentados pelo ministro da Justiça Ronald Lamola, pelos advogados de Manuel
Chang, o Governo moçambicano, e o Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), uma
ONG que diz representar os interesses da sociedade civil moçambicana.
Após a sua
nomeação pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, o atual ministro da
Justiça e Serviços Correcionais da África do Sul, Ronald Lamola, solicitou em
13 de julho a revisão da extradição de Manuel Chang para Moçambique,
contrariando a decisão do seu antecessor, Michael Masutha, que anunciou em maio
o repatriamento de Manuel Chang em detrimento da pretensão da justiça
norte-americana.
Desde então,
Manuel Chang renunciou ao lugar de deputado à Assembleia da República e perdeu
a imunidade inerente ao cargo, anunciou em 24 de julho a presidente do
parlamento moçambicano, Verónica Macamo.
A detenção e
pedido de extradição de Manuel Chang estão relacionados com o seu papel na
prestação de avales do anterior Governo moçambicano, presidido pelo
ex-Presidente Armando Guebuza, para financiamentos de 2,2 mil milhões de
dólares para criar as empresas públicas moçambicanas Ematum, Proindicus e MAM,
de segurança marítima e pesca, à revelia da Assembleia da República e do Tribunal
Administrativo de Moçambique.
Em Nova Iorque,
onde decorre o julgamento do caso das dívidas ocultas de Moçambique, três
antigos banqueiros do banco Credit Suisse deram-se como culpados de conspirar
para lavagem de dinheiro.
LUSA – 16.10.2019
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