Manuel chang: Parece que Moçambique tentou de repente arrumar a casa agora
As autoridades
sul-africanas questionaram os motivos de Moçambique no pedido de extradição do
ex-governante Manuel Chang para o seu país, no âmbito do processo das dívidas
ocultas, sem provas e julgamento convincentes.
“Parece que
Moçambique tentou de repente arrumar a casa agora que este caso está em curso,
ao tentar mostrar alguma boa fé que estão aptos a processar [Manuel Chang], não
sabemos se isso será suficiente, mas podemos já ver como é que o processo se
desenrolou”, disse à Lusa Johan van Schalkwyk.
O advogado do
Estado sul-africano referiu que “durante cerca cinco anos estiveram sem fazer
nada, enquanto que os americanos foram muito proativos, e é essa a realidade,
segundo os factos apresentados ao tribunal”, salientou.
No entanto, Johan
Schalkwyk sublinhou que Pretória "não favorece uma das partes em
particular”.
“O tribunal irá
decidir que o caso deve ser reencaminhado ao ministro para reconsideração, e
nós concordamos com essa decisão porque o ministro terá ao seu dispor todos os
factos para decidir se irá para os Estados Unidos ou para Moçambique",
acrescentou.
O advogado
sul-africano destacou, por outro lado, que no âmbito das chamadas dívidas
ocultas moçambicanas a África do Sul quer demonstrar à comunidade internacional
que a atual administração do Presidente Cyril Ramaphosa está
"seriamente" empenhada no combate à fraude e corrupção.
"Tivemos
alguns incidentes num passado recente, como por exemplo os casos de Grace
Mugabe e Al Bashir, mas temos um novo governo, com uma nova liderança e
certamente que vão querer combater a corrupção e fraude a nível
internacional", afirmou Schalkwyk, assegurando que “não se trata apenas de
retórica”.
No final da
audição de hoje, marcada por um debate animado entre o coletivo de juízes e as
partes intervenientes no caso de extradição de Manuel Chang, o assessor
jurídico principal do Estado sul-africano, o advogado Vincent Maleka, criticou
o papel de Moçambique, em particular da Procuradoria-Geral da República (PGR),
no caso das dívidas ocultas.
"A atitude
de Moçambique é inconsistente com a lógia e os factos e este tribunal deve
manter o posicionamento do atual ministro", afirmou Vincent Maleka em
representação do ministro da Justiça e Serviços Correcionais da África do Sul.
Na sua intervenção,
o advogado considerou que Moçambique não explicou perante o tribunal “porque é
que o Sr. Chang não foi acusado e levado até hoje a julgamento" e
questionou: “Se Moçambique afirma que o Sr. Chang é acusado seja do que for,
onde estão as provas?"
“As provas
mencionadas por Moçambique não são provas materiais para processar o Sr. Chang
mas, pelo contrário, são provas para futura investigação", contrapôs.
Na quarta-feira,
Vicent Maleka salientou que, “apesar do pedido [de extradição], as autoridades
moçambicanas foram incapazes de confirmar que foi emitida uma acusação formal
contra o Sr. Chang” e que a ordem de prisão “visava pouco mais" do que ser
interrogado pelas autoridades.
"É evidente
que a imunidade parlamentar não pode ser levantada na ausência do requerido. Na
altura da decisão, o Sr. Chang não tinha renunciado à sua imunidade parlamentar
e esse processo não teve o seu curso", afirmou Maleka.
Segundo o
advogado do Estado sul-africano, o pedido de extradição de Moçambique "não
responde cabalmente à questão da imunidade constitucional e parlamentar que se
aplica” a Manuel Chang.
A audição sobre a
revisão da decisão anunciada em maio de extraditar o ex-governante Manuel Chang
para Moçambique terminou hoje no Tribunal Superior de Gauteng, em Joanesburgo.
"Moçambique
quer que o Sr. Chang seja extraditado para Moçambique para ser processado
criminalmente. O tribunal decidirá oportunamente", afirmou à Lusa, no
final da audição, William Mokhare, advogado representante do Estado
moçambicano.
O juiz Colin Lamont
reservou a leitura da sentença para data a anunciar.
Manuel Chang está
detido desde dezembro na África do Sul, a pedido dos Estados Unidos da América,
no caso das chamadas dívidas ocultas.
A detenção e
pedido de extradição de Manuel Chang estão relacionados com o seu papel na
prestação de avales do anterior Governo moçambicano, presidido pelo
ex-Presidente Armando Guebuza, para financiamentos de 2,2 mil milhões de
dólares (dois mil milhões de euros) para criar as empresas públicas
moçambicanas Ematum, Proindicus e MAM, de segurança marítima e pesca, à revelia
da Assembleia da República e do Tribunal Administrativo de Moçambique.
*Título do blog
LUSA – 18.10.2019
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