As oito pessoas da ELITE arguidas no caso do assassinato Anastácio Matavele
Não são
quaisquer. São mesmo de luxo os arguidos do caso do assassinato de Anastácio
Matavele, o activista de Gaza morto a tiros por agentes da Polícia a 7 de
Outubro, no asfalto quente de Xai-Xai. Para além de agentes de elite das Forças
de Defesa e Segurança (FDS), a lista dos oito “magníficos” inclui, pelo menos,
um edil da Frelimo.
Um mês e oito
dias depois do crime que chocou o país e o mundo, a Procuradoria Provincial de
Gaza anunciou a conclusão da investigação do assassinato do então director do
Fórum das Organizações da Social Civil de Gaza (FONGA) e remeteu o processo ao
Tribunal Judicial daquela província para fases subsequentes
Em comunicado,
emitido a 15 de Novembro, a Procuradoria- -Geral da República (PGR) fez saber,
mesmo sem avançar nomes, ter constituído arguidos oito indivíduos, dos quais quatro
em liberdade e outros quatro detidos.
Entre os oito
arguidos do processo que ostenta o número 78/19 – Querela –, ora no Tribunal
Judicial da província de Gaza, quarta secção Criminal, alguns são acusados de
autoria material e outros de autoria moral de homicídio qualificado
O SAVANA está em
condições de avançar que um dos oito arguidos é o presidente do Conselho
Municipal de Chibuto, Henriques Machava, legalmente, à data dos factos,
proprietário da viatura usada para o assassinato brutal de Anastácio Matavele.
Trata-se da
viatura da marca Toyota, Modelo Mark X, com matrícula ADE 127 MC que, no dia do
assassinato de Matavele, era conduzida por Nóbrega Chaúque, agente das forças
especiais da Polícia que morreu no acidente após o baleamento da vítima.
Conforme
escrevemos na edição de 1 de Novembro último, Machava importou o carro usado
para o crime, em Maio de 2014, do Japão. Pagou, no total, 302,434.57 Meticais,
dos quais 159,430.50 na compra, frete e seguros e 143,004.07 em direitos
aduaneiros e outras imposições fiscais. Desembaraçou a viatura às 14h:51
minutos de 21 de Maio. Ele viria a registar a mesma viatura no Registo Automóvel
de Maputo, dias depois. Além de Henriques Machava, a PGR constituiu arguido
Ricardo Manganhe, professor de carreira e subordinado de Henriques Machava, no
Município de Chibuto, onde é responsável pelo pelouro da Educação. É a Manganhe
que, supostamente, o edil de Chibuto tinha vendido o carro do crime.
O negócio teria
sido celebrado nos princípios de Agosto do ano corrente, ou seja, um mês e meio
antes da viatura se envolver no assassinato de Matavele.
Confrontado pelo
Jornal, em Outubro último, Machava reconheceu que a viatura ainda mantinha os
seus nomes. No entanto, explicou que tal se devia ao facto de o suposto
comprador não ter concluído os pagamentos.
Manganhe, pessoa
próxima ao edil Machava, assumiu que a viatura já estava com ele, ao abrigo do
contrato de compra da mesma, cujos pagamentos ainda estava por concluir.
Manganhe assumiu também que tinha emprestado o carro a Nóbrega Chaúque que
alegou que tinha “pressão do serviço”, que não lhe permitia “resolver assuntos
pessoais”.
Os terceiro e
quarto arguidos dos que ainda se mantêm em liberdade são Januário Rungo e
Justino Muchanga, ambos quadros seniores da Unidade de Intervenção Rápida (UIR)
em Gaza. Não está clara a posição ocupada por Rungo na UIR, mas Muchanga é
responsável pelo sector de armamento no quartel da UIR.
De acordo fontes
do Tribunal Judicial da Província de Gaza, Januário Rungo é acusado de ter
recebido e encaminhado as armas do crime para o arsenal da UIR. As mesmas armas
foram entregues pelo agente Euclídio Mapulasse, após se ter escapado do
acidente onde morreram Nóbrega Chaúque e Martins Williamo.
Mapulasse foi
detido, no quartel da UIR, no mesmo dia do assassinato de Matavele por ordens
da 2ª Esquadra de Xai-Xai. Por seu turno, Justino Muchanga, responsável pela
secção de armamento (arsenal) da UIR, é acusado de ter retirado as armas do
arsenal para a operação do assassinato de Matavele.
Os restantes
quatro arguidos que perfazem a lista dos oito magníficos de Gaza são Edson
Silica, Euclídio Mapulasse, Tudelo Guirrugo e Alfredo Macuácua, todos eles
detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza
Silica e
Mapulasse integravam a quadrilha composta por cinco assassinos, todos eles
agentes da Polícia, na verdade tropas de elite que, a 7 de Outubro último,
tiraram a vida ao activista Anastácio Matavele, um antigo alvo a abater na
província de Gaza devido aos seus incómodos posicionamentos em relação ao
Governo do dia.
Silica é o agente que, depois de contrair
ferimentos no acidente em que a quadrilha se envolveu após o assassinato, foi
encaminhado ao hospital provincial de Gaza. Assim que teve alta hospitalar,
Silica, 34 anos de idade, foi logo encaminhado à cadeia provincial de Gaza.
Por sua vez,
Mapulasse, também sobrevivente do acidente que se encarregou de destapar o véu
sobre os esquadrões de morte, foi detido logo depois do acidente. Tudelo
Guirrugo e Alfredo Macuácua, os últimos dois arguidos, eram, à data dos factos,
comandantes da companhia do GOE e da subunidade da UIR, em Gaza,
respectivamente.
Guirrugo foi
detido a 5 de Novembro, uma terça-feira, à saída de uma acareação com outros
arrolados no caso, incluindo um agente das Forças Armadas de Defesa de
Moçambique (FADM) afecto ao centro de recrutamento das FADM e um agente do
Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC).
Dias depois,
seria detido Alfredo Macuácua. Os dois comandantes haviam sido suspensos pelo
comandante geral da Polícia, Bernardino Rafael, a 8 de Outubro, 24 horas depois
do crime que calou o incómodo activista de Gaza. Para além de director
executivo do FONGA e vice-presidente do Fórum Nacional de Florestas, Anastácio
Samuel Matavele, 55 anos, natural de Bungane, distrito de Chongone e, à data do
seu assassinato, residente na cidade de Xai-Xai, era também director executivo
da Sala da Paz [para a zona sul que, para além de Gaza, inclui Maputo e
Inhambane], uma plataforma de organizações da sociedade civil para a observação
eleitoral.
A Sala da Paz
denunciou diversas irregularidades do processo eleitoral. Aliás, Matavele foi
baleado quando regressava de uma formação de observadores eleitorais. Na
qualidade de observador eleitoral, numa província com um recenseamento
problemático, que tinha criado mais de 300 mil eleitores fantasmas, Matavele
era um declarado incómodo aos planos de Gaza, uma província bastante hostil à
oposição, mas com cadáveres a acordarem para votar na Frelimo
Outros esquecidos?
Na acusação assim
como no comunicado da Procuradoria, não constam os nomes de Agapito Matavele,
agente foragido. Igualmente, não consta o nome do funcionário sénior do Estado
em Gaza, que supostamente fornecia senhas de combustível para os atiradores.
Confirma-se envolvimento no assassinato de Carlos
Ubisse
A equipa de
investigação do SAVANA sabe que a Procuradoria Provincial de Gaza já ouviu os
arguidos no processo relacionado com o rapto e assassinato de Carlos Moçambique
Ubisse, ocorrido no dia 23 de Setembro, no Bairro 2000, no Chongoene. Na
audição, os arguidos reconheceram que a viatura que assassinou Carlos Ubisse é a
mesma que viria a ser usada no assassinato de Anastácio Matavele.
Revelaram que, à
data do rapto e assassinato de Ubisse, a mesma viatura, legalmente, pertencente
ao presidente do Município de Chibuto, supostamente em processo de trespasse
para Ricardo Manganhe, estava a ser conduzida pelo finado Nóbrega Chaúque. No
entanto, negam que tenham estado envolvidos no referido assassinato. Ou seja,
jogam toda a culpa para os já mortos Nóbrega Chaúque e Martins Williamo, que
não têm como acordar para se defender. A confissão dos arguidos vem confirmar o
que o SAVANA já havia avançado, que no dia de assassinato de Carlos Ubisse (23
de Setembro), o carro tinha sido emprestado ao Nóbrega por Ricardo Manganhe.
Nóbrega Chaúque só devolveu- -o no dia 25 de Setembro, coincidentemente, data
do enterro de Carlos Ubisse, em Mohambe, distrito de Chibuto.
Título do blog
in Savana 13.12.2019
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