Dívidas: Juiz britânico obriga Credit Suisse a apresentar defesa para a semana
O tribunal de
Londres que está a analisar a queixa de Moçambique contra o Credit Suisse, no
âmbito do escândalo das 'dívidas ocultas', obrigou o banco a apresentar a
defesa até à próxima terça-feira.
De acordo com
o 'site' noticioso especializado em processos judiciais, Law360, na sessão de
terça-feira o juiz Mark Pelling considerou que um adiamento da apresentação da
defesa por parte do Credit Suisse iria protelar mais o processo e aumentar os
custos judiciais de forma desnecessária.
Moçambique, de
acordo com o Law360, pretende adicionar ou trocar o destinatário da queixa, que
deixaria de ser o Credit Suisse AG e o Credit Suisse International, para ser
contra o Credit Suisse Securities (Europe) International Ltd, a entidade que
empregava os funcionários que viabilizaram o empréstimo às duas empresas
estatais moçambicanas, Mozambique Asset Management (MAM) e ProIndicus, no valor
cerca de 1,2 mil milhões de dólares, cerca de mil milhões de euros.
Na resposta, a
advogada desta entidade bancária disse que o pedido de Moçambique era uma
manobra legal para esconder o "erro" de ter processado a entidade
errada, e que seria necessário reescrever parte da defesa.
No entanto, o
juiz desvalorizou este argumento, dizendo que acrescentar ou trocar o
destinatário da queixa judicial teria "pouco impacto" na recolha de
provas ou na sua divulgação, ordenando que o Credit Suisse apresente a sua
defesa até à próxima semana.
Em 2014 o
banco russo VTB deu um empréstimo de 535 milhões de dólares (quase 480 milhões
de euros) à empresa pública Mozambique Asset Management, com garantia estatal
mas sem a inclusão deste valor nas contas públicas e sem ser anunciado publicamente.
O empréstimo
de 535 milhões de dólares do VTB à MAM junta-se a outro, organizado pelo Credit
Suisse e que teve como beneficiário a empresa pública ProIndicus, no valor de
622 milhões de dólares (558 milhões de euros), igualmente com garantia estatal
e à margem das contas públicas e do conhecimento dos doadores internacionais.
A divulgação
destes empréstimos, em abril de 2016, precipitou o país para uma crise
económica e financeira que ditou o afastamento dos mercados internacionais e o
abrandamento do crescimento para os valores mais baixos deste século, para além
de uma degradação do 'rating' para Incumprimento Financeiro pelas três maiores
agências de notação financeira.
Para além
disso, anos depois, originou um conjunto de ações judiciais, entre as quais a
detenção do antigo ministro das Finanças e de personalidades ligadas ao então
Presidente da República, Armando Guebuza.
O Governo dos
Estados Unidos quer julgar, no mesmo processo, o antigo ministro das Finanças
moçambicano Manuel Chang e o antigo diretor dos Serviços de Inteligência e
Segurança do Estado de Moçambique António Carlos do Rosário.
Manuel Chang,
que é aguardado para julgamento num tribunal de Nova Iorque, encontra-se detido
na África do Sul desde 29 de dezembro de 2018, a pedido da Justiça dos Estados
Unidos, por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro numa burla internacional.
O ex-ministro
das Finanças enfrenta pedidos de extradição para Moçambique e para os Estados
Unidos.
António do
Rosário encontra-se detido em Moçambique.
● LUSA
– 16.01.2020
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