Beira, Moçambique, 29 abr 2020 (Lusa)
- O líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) defendeu hoje que a
violência armada em Cabo Delgado resulta da desigualdade social e pobreza das
populações, considerando que o Governo se mostra incapaz de resolver o
problema.
"Esta guerra tem um histórico de vários problemas não
resolvidos ao longo de anos, associados a erros de governação, que empurram a
população a desigualdades sociais e níveis de pobreza agudas, o que facilitou a
organizações internas e externas financiarem este terrorismo, mas o seu rápido
alastramento é indicador da ausência de capacidade, eficácia e eficiência
interna", disse Daviz Simango.
O líder do MDM, terceira força política parlamentar no país,
falava durante uma conferência de imprensa convocada para comentar a declaração
à nação do chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, sobre os 100 dias de
governação do seu segundo mandato.
Daviz Simango afirmou que esperava ouvir do chefe de Estado
moçambicano um pronunciamento sobre as 162 mil pessoas afetadas pela violência
em Cabo Delegado, onde pelo menos 500 pessoas morreram devido às incursões
armadas desde outubro de 2017.
"Esperávamos ouvir o que está a ser feito para cuidar
dos deslocados, que se confinam nas capitais das vilas distritais sujeitos a
mortes devido a fome e doenças", declarou o presidente do MDM.
Os ataques armados em Cabo Delgado, região onde avançam
megaprojetos de extração de gás natural, são classificados por organizações
internacionais e pelo Governo como uma ameaça terrorista e têm sido
reivindicados por grupos autoproclamados ‘jihadistas’, com objetivo de impor
uma lei islâmica na região.
O líder deste partido da oposição criticou ainda o executivo
pela sua governação nestes 100 dias, considerando que o país precisa de uma
"economia de mercado que forneça às populações o que elas querem, da
melhor maneira e mais barata possível".
"Esperávamos políticas claras, pois Moçambique deve
enfrentar o desafio do crescimento da população de forma sustentável, fazendo
uma mudança a partir de um modelo homogéneo para sistemas agrícolas que façam
uso intensivo do conhecimento e se adaptem aos locais específicos",
saleintou.
Por outro lado, Simango criticou o estágio do processo
negocial entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo),
observando que o acordo de paz assinado entre as partes não produziu
resultados.
"Até agora nada se diz e nem há desenvolvimentos
seguros, apesar de terem sido anunciadas manifestações para o início de
integração de cinco mil homens [da Renamo]. A verdade é que passados todos
estes meses não se sabe de nada", frisou.
O chefe de Estado moçambicano e o líder da Renamo assinaram
em agosto do ano passado um acordo de paz, um entendimento que prevê o
desarmamento dos guerrilheiros do principal partido de oposição.
Passados oito meses, ainda nenhum guerrilheiro entregou as
armas, excetuando 10 oficiais da Renamo indicados para integrar o Comando-Geral
da Polícia moçambicana e que concluíram instrução em novembro.
Há cerca de duas semanas, o chefe de Estado moçambicano e o
presidente da Renamo, Ossufo Momade, estiveram reunidos e defenderam a
celeridade do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos guerrilheiros do
principal partido de oposição, mas sem avançar detalhes sobre o processo.
Filipe Nyusi foi reeleito nas eleições de 15 de outubro em
Moçambique com 73% dos votos, num escrutínio em que o seu partido, a Frente de
Libertação de Moçambique (Frelimo), também obteve a maioria qualificada nas
legislativas e provinciais.
O Movimento Democrático de Moçambique tem seis dos 250
deputados no parlamento, a Frelimo 184 e a Renamo 60.
JYJE // SR
Lusa/Fim
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