Polícia identifica filho de Bolsonaro como líder de esquema de 'fake news' - imprensa
Brasília, 25 abr 2020 (Lusa) - A Polícia Federal brasileira identificou o
vereador Carlos Bolsonaro, filho do Presidente, Jair Bolsonaro, como um dos
líderes de um esquema ilegal de desinformação, segundo uma investigação
sigilosa conduzida pelo Supremo Tribunal Federal, divulgada pela imprensa
local.
De acordo com o
jornal Folha de S. Paulo, o inquérito foi aberto em março do ano passado pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para apurar o uso
de notícias falsas para ameaçar e caluniar juízes daquele tribunal.
O jornal detalha
ainda que Carlos, segundo filho do chefe de Estado, é investigado por suspeita
de ser um dos líderes do grupo que cria e divulga notícias falsas, de forma a
intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet.
A Polícia também
investiga a participação no esquema do seu irmão e deputado federal, Eduardo
Bolsonaro.
A informação
surge um dia após o ministro demissionário da Justiça do Brasil, Sergio Moro,
que na sexta-feira acusou o Presidente brasileiro de querer acesso privilegiado
a investigações judiciais, ter exibido alegadas provas das suas acusações
contra Jair Bolsonaro.
Sergio Moro mostrou,
na noite de sexta-feira à TV Globo, uma alegada troca de mensagens entre si e
Jair Bolsonaro, datada de quinta-feira, na qual Bolsonaro pretendia uma mudança
no comando da Polícia Federal, justificando a necessidade da medida com uma
investigação em curso contra deputados aliados do chefe de Estado.
Na conversa
enviada por Moro à Globo, o Presidente enviou ao ex-juiz uma hiperligação de
uma reportagem do 'site' "O Antagonista", dando conta que a Polícia
Federal suspeitava do envolvimento de "dez a 12 deputados
bolsonaristas" em relação a um grupo de disseminação de notícias falsas
nas redes sociais ligado ao vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do
mandatário.
A acompanhar a
hiperligação, Bolsonaro escreveu: "Mais um motivo para a troca",
referindo-se ao seu desejo de mudança na direção da Polícia Federal, cuja
liderança estava a cargo de Maurício Valeixo, exonerado na manhã de
sexta-feira.
Nessa troca de
mensagens, Moro argumentou a Bolsonaro que a investigação em andamento não
tinha sido movida por Mauricio Valeixo, acrescentando que esse inquérito estava
a ser conduzido pelo juiz do STF Alexandre de Moraes.
Moro anunciou na
manhã de sexta-feira a demissão do cargo que ocupava desde janeiro do ano
passado, justificando a sua saída do Governo com o facto de Bolsonaro ter
exonerado o ex-chefe da Polícia Federal do país Maurício Leite Valeixo para
"interferir" nas investigações da instituição.
"O
Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma
pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele
pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de
inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um
superintendente", declarou Sergio Moro.
O ex-juiz
declarou que Bolsonaro lhe disse pessoalmente que queria mudar o chefe geral da
Polícia Federal porque estava preocupado com investigações em curso no STF, que
poderiam envolver os seus filhos ou aliados políticos, e queria ter acesso a
relatórios sigilosos sobre investigações.
Contudo, a
divulgação de uma eventual ligação de Carlos Bolsonaro a grupos difusores de
'fake news' já remonta ao final do ano passado, quando a deputada brasileira
Joice Hasselmann, ex-líder do Governo de Jair Bolsonaro no congresso, denunciou
um esquema de notícias falsas, ligado ao atual Presidente, e que funcionaria na
sede da Presidência.
Em dezembro,
Hasselmann prestou depoimentos na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) às 'fake news', instaurada pelo Congresso brasileiro, e declarou a
existência de um grupo que, segundo a deputada, ficou conhecido como
"gabinete do ódio", tendo como mentores o vereador Carlos Bolsonaro e
o deputado Eduardo Bolsonaro, ambos filhos do atual chefe de Estado do Brasil.
"Qualquer
pessoa que eventualmente discorde [da família Bolsonaro] entra como inimigo da
milícia", disse, acrescentando que o grupo atua com uma estratégia bem
definida e organizada, começando com uma lista de pessoas consideradas
"traidoras" e que são escolhidas como alvo dos ataques cibernéticos.
MYMM // TDI
Lusa/fim
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