Nem a PRG nem os assessores de davam trabalho de anotarem as perguntas dos deputados


Informe Anual’19 em entrelinhas
A dado momento, ontem e anteontem, durante as perguntas de insistência, Beatriz Buchili e seus auxiliares não faziam anotações do que ia sendo dito pelos deputados da Assembleia da República.
Buchili limitava-se, pois, a encarar os oradores de momento, quase indiferente no que toca às anotações para posterior resposta e/ou matéria de reflexão uma vez na casa da Vladmir Lenin. Porém, noutros momentos, Beatriz Buchili levava mãos à obra, anotando às pressas o que estava sendo proferido para, depois, voltar a pousar a esferográfica e o bloco de notas.
Esteve mais tempo de braços ‘descansados’, pouco dada a anotações, o que em boa verdade significa fraca qualidade dos nossos deputados. Isso mesmo, de resto, foi referido pela própria Beatriz Buchili quando sugeriu aos deputados no sentido de se centrarem mais no Informe apresentado, não nas questões marginais.
Esta situação, triste, nos leva a um ligeiro recuo no tempo, quando a equipe governamental liderada pela primeira-ministra, Luísa Diogo, se fazia à Assembleia da República para o governo responder as perguntas dos deputados. Ficava a ideia de que os ministros estavam alí a perder tempo e que, no lugar disso, deviam estar nos seus gabinetes ou em visitas de trabalho nos sectores que dirigem. Mas estavam alí, sentados praticamente sem nada fazerem de útil, antes, limitando-se a ouvir trocas de garlhardetes entre os deputados da Frelimo e da Renamo, numa vergonhosa cena que infelizmente até aos nossos dias prevalece.
Ainda bem que Beatriz Buchili – esta casa há muito que vem apreciando esta procuradora – aproveitou o momento para lançar picardias aos deputados, todos eles, por elevarem assuntos margens para o Informe Anual, desse modo desperdiçando o tempo sempre útil nos dias que correm.
Logo no primeiro dia, anteontem, de sessões do Informe, Aires Ali, deputado frelimista, depois de tanto devagar, em determinado momento, quis saber da PGR o real significado de New Man, no âmbito das famigeradas dívidas não declaradas.
A resposta veio na derradeira sessão, quando Beatriz Buchili desvalorizou a questão evocada num tribunal distrital de Nova Iorque, por Jean Boustani. Buchili diz, noutras palavras, que por ter vindo de um indivíduo que estava a ser julgado e que tentativa se escapulir de qualquer sentença, as suas palavras podem não ter o impacto que eventual deveriam ter. Ou seja, quem luta em tribunal por se defender recorre a todas as artimanhas ao dispôr, podendo ter sido isso mesmo o que aconteceu quando Jean Boustani fez referência à figura de New Man, como tendo recebido milhão de dólares norte-americanos.
Mas os deputados recuperaram esta questão, à qual se juntou outro tema, o dos 10 milhões de dólares apontados como tendo sido depositados numa conta do partido Frelimo. Na mesma linha, Beatriz Buchili não animada com a ideia de que o caso fosse interessante o suficiente para accionar o que quer que fosse, pelas mesmas razões de assuntos levantados em sede de julgamento e, do modo como as coisas aconteceram, não dá azo a nenhum aproveitamento por parte das autoridades moçambicanas.
O que Beatriz Buchili pretende dos Estados Unidos, neste intrincado caso, é que o país se faça à cooperação jurídica e judicial de acordo com os instrumentos internacionais existentes, coisa que o país do Tio Sam não tem respeitado.
Com efeito, de todas as vezes que Moçambique pediu colaboração no caso das dívidas não declaradas, a contraparte norte-americana não respondeu a nenhuma.
O MDM considera os pedidos de colaboração moçambicana sem sentido, uma vez que as partes estão em disputa pela figura de Manuel Chang. Logo, entende o MDM, ninguém está disposto a vender ouro ao bandido.
Curiosamente, Beatriz Buchili declina que Moçambique e os EUA estejam em luta, até porque, recorda a procuradora, os norte-americanos têm colaborado de forma intensa com Moçambique nas mais diversas áreas.
EXPRESSO – 22.05.2020

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