Organização pede segundo processo sobre homicídio de observador eleitoral
O Centro para a
Democracia e Desenvolvimento (CDD), uma organização da sociedade civil
moçambicana, defendeu hoje a abertura de um processo autónomo para encontrar os
mandantes do homicídio do observador eleitoral Anastácio Matavel, em outubro
passado.
Em comunicado, a
organização antecipa-se à decisão do Tribunal Judicial da Província de Gaza,
onde o crime está a ser julgado, com seis polícias e um civil no banco dos
réus.
"Ciente de
que estas e outras questões não serão esclarecidas no presente julgamento, o
CDD exige que os órgãos da justiça aprofundem as investigações através de
abertura de processos autónomos com vista à identificação e responsabilização
dos autores morais deste crime", lê-se no documento.
"Esta
conclusão decorre da observação que o CDD fez em todas as sessões de audiência
e julgamento e funda-se nas omissões e lacunas da própria investigação",
acrescenta, reafirmando a descrença já expressa antes do início do julgamento.
O CDD nota que
todos os operativos do Grupo de Operações Especiais (GOE) da polícia atirarem a
responsabilidade pelo assassinato para o comandante do pelotão, Agapito
Matavel, foragido, e considera insuficientes os esclarecimentos acerca de
outras figuras, como Henriques Machava, membro sénior da Frente de
Libertação de Moçambique (Frelimo) em Gaza e presidente do Conselho
Municipal de Chibuto, em nome de quem estava registada a viatura do crime.
Ainda assim, a
organização manifesta "satisfação" pela realização do julgamento, por
ser "o primeiro" entre vários "casos flagrantes de violação dos
direitos humanos" em que vozes críticas são silenciadas sem que se
conheçam, "no mínimo, os seus autores materiais".
"A título
exemplificativo, pode citar-se os casos de assassinato do constitucionalista e professor
catedrático Gilles Cistac e dos raptos do académico e professor universitário
Jaime Macuane e do jornalista e analista Ericino de Salema", refere o
comunicado.
A organização
patrocina os advogados da família de Anastácio Matavel no processo e tem também
suportado o transporte de jornalistas até Xai-xai, capital provincial de Gaza,
cerca de 200 quilómetros a norte de Maputo, para cobrirem o julgamento - cujas
alegações finais estão marcadas para quinta-feira.
O CDD defende que
se tratou de um crime de Estado, de polícias numa missão, condenando a posição
do Ministério Público de afastar tal responsabilidade, considerando que os
arguidos cometeram o crime em seu nome e no interesse próprio.
Anastácio
Matavel, dirigente do grupo de observação eleitoral Casa da Paz, foi abatido
uma semana antes das eleições gerais de 15 de outubro.
O caso provocou
repúdio e condenação em Moçambique e fora do país, por se tratar de um ativista
da sociedade civil assassinado durante a campanha eleitoral.
LUSA – 25.05.202
Comentários
Enviar um comentário