PGR diz que EUA poderão absolver antigo ministro das Finanças
Maputo, 21 mai
2020 (Lusa) - A procuradora-geral da República (PGR) moçambicana considera que
o ex-ministro das Finanças Manuel Chang será absolvido nos EUA, se for
extraditado para este país, no processo das ‘dívidas ocultas’, porque a justiça
norte-americana não tem jurisdição sobre o caso.
"Se a
decisão for no sentido de extraditar Manuel Chang para os Estados Unidos da
América, o mesmo poderá ser restituído à liberdade", declarou hoje Beatriz
Buchili, na Assembleia da República.
A PGR respondia a
perguntas dos deputados sobre o processo de extradição do antigo ministro das
Finanças, cuja custódia é disputada pela justiça moçambicana e norte-americana
para julgamento no âmbito do processo das ‘dívidas ocultas’.
Beatriz Buchili
recordou que um tribunal de Nova Iorque decidiu em dezembro que a justiça dos
Estados Unidos da América (EUA) não tem jurisdição sobre o caso das ‘dívidas
ocultas’ moçambicanas.
Esse entendimento
da justiça norte-americana levou à absolvição do franco-libanês Jean Boustani.
"A decisão
judicial poderá não ser diferente da tomada no caso precedente, referente a
Jean Boustani, peça-chave de todo o processo de endividamento e desvio dos
valores em causa", sublinhou Buchili.
O desfecho no
caso de Jean Boustani, prosseguiu a magistrada, reforça o interesse de
Moçambique em lutar pela extradição de Manuel Chang, detido na África do Sul.
A PGR criticou
organizações da sociedade civil moçambicana que defendem a extradição do antigo
ministro das Finanças para os EUA e que apontam a falta de credibilidade da
justiça moçambicana.
Beatriz Buchili
reiterou que o Estado moçambicano é o único com jurisdição sobre o caso e os
moçambicanos são os maiores lesados pelo escândalo das ‘dívidas ocultas’.
"Deve haver
coerência no tratamento deste assunto. Porquanto, se por um lado, se exige o
esclarecimento integral do processo judicial relativo à contração da dívida,
por outro, é necessário considerar que esse esclarecimento passa pela
responsabilização de todos os indivíduos envolvidos, incluindo Manuel Chang, o
que só pode acontecer com a extradição deste para Moçambique", afirmou.
Por "dever
patriótico", prosseguiu, as organizações da sociedade civil deviam
pressionar os países obrigados a cooperar no caso, principalmente os EUA, para
ajudarem no processo judicial em Moçambique.
"Não é
lógico, nem faz sentido, ao mesmo tempo, exigir o esclarecimento integral e
célere no processo que corre termos em Moçambique e a extradição de Manuel
Chang para os Estados Unidos", referiu.
Os EUA, continuou
Buchili, não tem jurisdição sobre esta matéria, para além de não colaborarem
com as autoridades moçambicanas e perseguirem os seus próprios interesses.
Na quarta-feira,
a PGR acusou no parlamento as autoridades norte-americanas de falta de
cooperação no processo judicial sobre as dívidas ocultas, assinalando que o
silêncio dos EUA está a prejudicar as investigações e a celeridade da justiça.
Já na informação
prestada à Assembleia da República relativa a 2018, a chefe da magistratura do
Ministério Público moçambicano também tinha acusado os EUA de falta de
cooperação no caso das ‘dívidas ocultas’.
Este mês, por sua
vez, os EUA acusaram Moçambique de "perseguir" a extradição de Manuel
Chang para proteger o antigo Presidente Armando Guebuza e altos quadros do
partido no poder, suspeitos de terem recebido 150 milhões de dólares (138
milhões de euros) em "luvas".
"Os Estados
Unidos têm provas de que 150 milhões de dólares em subornos foram para
funcionários públicos moçambicanos, incluindo 10 milhões de dólares [nove
milhões de euros] para o partido Frelimo, em Moçambique, e 60 milhões de
dólares [54,5 milhões de euros] para Armando Guebuza (ex-Presidente) e o seu
filho", lê-se na submissão dos EUA para a extradição do ex-ministro das
Finanças moçambicano.
O pedido, a que a
Lusa teve acesso, foi enviado recentemente pelo Departamento de Justiça dos EUA
ao ministro da Justiça da África do Sul.
As ‘dívidas
ocultas’ estão relacionadas com empréstimos no valor de 2,2 mil milhões de
dólares (dois mil milhões de euros) contraídos entre 2013 a 2014 junto das
filiais britânicas dos bancos de investimentos Credit Suisse e VTB pelas
empresas estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.
Os empréstimos
foram secretamente avalizados pelo Governo moçambicano da altura, sem o
conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.
Um total de 20
pessoas foram constituídas arguidas em Moçambique, aguardando a decisão da
justiça acerca dos recursos que apresentaram face ao despacho de pronúncia,
conhecido em agosto de 2019.
Entre elas,
sobressaem figuras do círculo próximo do ex-Presidente Armando Guebuza, tais
como um dos filhos, Ndambi Guebuza, e a sua secretária pessoal, Inês
Moaine.
A justiça
moçambicana abriu um processo autónomo e constituiu 10 arguidos, incluindo seis
moçambicanos e quatro estrangeiros, cujas identidades não foram ainda
reveladas.
PMA // LFS
Lusa/Fim
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