Histórico sobre a origem do fundamentalismo religioso e situação actual
Por Jacinto
Veloso*
Émeu entendimento
que todas as religiões desde as mais praticadas e difundidas até às mais
limitadas e localizadas, para além do papel positivo da educação moral e cívica
que incutem na sociedade, tem sido aproveitadas politicamente tanto por forças
poderosas para tirar vantagens sociais e económicas, como pelos oprimidos para
se libertarem da opressão, exploração e humilhação das classes dominantes.
Foi há mais de
4.000 anos (sec. XVIII a. C.) que Abraão, o pai das religiões monoteístas,
influenciou por inspiração divina a criação do judaísmo. No ano zero da nossa
era, Jesus Cristo, profeta do mesmo Deus de Abraão, criou uma nova religião
monoteísta que acabou chamada de cristianismo.
No sec. VII,
Mahomed, o último profeta do Deus de Abraão, fundou a religião monoteísta do
Islão.
O Monoteísmo,
factor de unidade social
Uma vantagem da
religião monoteísta foi conseguir a união das diversas mini-crenças religiosas
existentes nos diferentes agregados populacionais dispersos em vastos
territórios, criando uma unidade entre todas as comunidades normalmente de
natureza tribal, favorecendo assim uma governação única num vasto território; a
religião funcionou como catalisador da unidade territorial e unificadora
política na criação das nações.
O monoteísmo
passou a ser a estratégia de desenvolvimento de uma determinada religião
acabando por ser aproveitado por alguns grupos sociais para dominar política,
económica e financeiramente um certo país ou conjunto de nações, o que implica
controlo de territórios mais ou menos extensos e a implementação de um Estado
no sentido moderno do conceito.
De uma forma
geral, o cristianismo, nas suas diversas variantes, embora tendo nascido no
Médio Oriente, desenvolveu-se na Europa tendo irradiado para outros continentes
no quadro da evangelização dos povos indígenas, sendo a intenção dos políticos
expandir a economia (comércio) e angariar riqueza normalmente por opressão e
exploração dos povos cristianizados.
A defesa, pela
força, dos interesses cristãos
Por estas razões
os reinos cristãos da Europa, a pretexto de defenderem o interesse espiritual
do Papa (Chefe dos Cristãos) organizaram expedições militares de combate,
punição e conquista das vastas terras de Jerusalém, berço do Cristianismo,
ocupadas pelos muçulmanos claramente também por interesse económico.
(Modernamente os interesses económicos Ocidentais - americanos, britânicos e
franceses – tudo fizeram para dominar o médio-oriente e os países muçulmanos
produtores de petróleo, invocando a defesa dos seus interesses nacionais).
Nascimento da
religião muçulmana
O profeta Mahomed
nasceu no ano 571 em Meca. Pai e mãe falecidos ainda criança, Mahomed foi
criado por um avô com quem aprendeu a fazer comércio. Acabou casando com a
viúva Kahatija, comerciante abastada para quem trabalhava e com quem teve seis
filhos: dois rapazes e quatro meninas. Um dia, retirado no monte Hira
apareceu-lhe o anjo Gabriel que lhe pediu para o acompanhar na veneração a
Deus.
Kahatija
encorajou-o a fixar e repetir os ensinamentos do anjo Gabriel que aliás Mahomed
deixou fielmente registados por escrito, para a posteridade. O Profeta Mahomed
iniciou a difusão do que viria a ser a nova religião monoteísta do Islão em
Meca, onde os politeístas locais, sentindo-se ameaçados no seu poder político,
perseguiram-no e obrigaram-no a fugir para Medina no ano de 622. (Diga- -se, de
passagem, que algo idêntico havia já acontecido com o profeta Jesus quando
iniciou suas pregações em Jerusalém e na Judeia, hoje Cisjordânia, onde foi
perseguido pelos poderosos da região e pelo ocupante império romano, porque
considerado uma ameaça aos poderes estabelecidos na região).
É a partir de
Medina, que Mahomed difunde suas ideias no início de forma pacífica, tendo a
dado momento que usar a força militarizada para as impor, primeiro em Medina e
depois em Meca, unificando assim várias tribos e comunidades, aglutinando na
religião única do Islão, as diferentes crenças religiosas que cada uma
praticava.
Desta forma
concentrou numa mesma entidade os poderes religioso, político, militar e administrativo,
constituindo o que mais tarde se chamou de “Califado”. Na prática instaurou um
Estado que hoje se chamaria de Islâmico. O Califado, ou melhor, um conjunto de
vários pequenos subcalifados, acabou se estendendo da Pérsia (actual Irão) até
a toda a África do Norte, acabando por entrar na Europa pela península Ibérica
e ocupando uma boa parte da actual França.
A expansão
muçulmana na Europa foi travada em Poitiers no norte da França no ano de 732
(Outubro). As forças muçulmanas eram comandadas por Algafequi, governador de
Córdova (na Espanha), que, por sua vez, dependia administrativamente do grande
Califado de Damasco, na actual Síria.
O sucesso da
ocupação muçulmana e administração na península Ibérica foi em particular
devido à ampla tolerância religiosa e à liberdade de comércio para todos, o que
permitiu um sólido controlo político e de governação das populações
conquistadas em enormes extensões de território, sempre sob o olhar vigilante
das forças de ocupação.
Note-se que a
concentração dos poderes religioso, militar e administrativo sobre um
determinado território (Califado) está sendo o conceito retomado na actualidade
pelo fundamentalismo islâmico, sob a designação de Estado Islâmico1.
Após a morte de
Mohamed (632) sucederam-lhe Abu Bakr e Omar que para os sunitas eram os
legítimos herdeiros do profeta Mohamed que havia começado por unificar os
beduínos de Medina e das diversas comunidades nómadas tribais da região,
acabando por unificar toda a península da Arábia usando essencialmente a força
militar.
Mohamed é também
considerado por muitos como um grande comandante militar. A expansão do Islão,
com o apoio de forças militarizadas, foi ocupando sucessivamente as áreas que
são hoje a Síria e o Iraque. Seguiu-se o actual Egipto, tendo o Califa Omar2 alargado
o domínio territorial, unificando os árabes e utilizando os princípios da
Jihad3 ou Guerra Santa, como estratégia para a conquista e islamização de novos
territórios.
Originariamente a
Jihad, no Corão, refere-se à luta interior que cada crente deve realizar para
aperfeiçoar sua mente e espírito. “O verdadeiro combatente é aquele que trava
um combate consigo mesmo”, disse Mohamed quando pregava pelo Deus único contra
os politeístas.
Nesta linha, o
cristianismo não era inimigo do Islão e Aissa ( Jesus Cristo) é também
considerado um grande profeta pelo Corão, um verdadeiro mensageiro de Deus.
Após o controlo
religioso e administrativo da península arábica os califas alargaram o conceito
da Jihad que passaram a utilizar no combate militar, acrescentando à expansão
da religião o objectivo da dominação política, certamente por razões económicas
e de angariação de receitas para uso na administração dos territórios sob seu
controlo, na prática constituindo um estado ou o embrião de um estado islâmico.
Divergências
no Islão
A sucessão do
Profeta, após a sua morte, levantou problemas entre seus mais próximos
colaboradores. Os familiares de Mohamed, não se conformaram com o facto da
liderança do Islão ter sido entregue, por indicação do próprio Profeta, a
pessoas fora da sua família directa. Um século mais tarde a divergência ficava
ainda mais clara entre xiitas4 e sunitas5.
Os xiitas
consideram que o sucessor legítimo de Mohamed devia ter sido Ali, que casou com
uma filha do Profeta e era seu primo. Já os sunitas consideram Abu Bakr e Omar
os legítimos sucessores de Mohamed até porque foram eles que lhe sucederam logo
após a sua morte.
O conflito
interno de liderança entre xiitas e sunitas mantem-se até aos dias de hoje, não
havendo todavia contradição no objectivo de continuar a expandir a religião
muçulmana para novos territórios. Na sua expansão os muçulmanos ocuparam as áreas
sob controlo cristão do império bizantino, da Síria, da Palestina, do Egipto e
da Mesopotâmia.
Em 661 os
sunitas, após um golpe sobre o líder xiita do Islão, assumiram o controlo dos
territórios sob controlo muçulmano neutralizando os possíveis candidatos xiitas
à liderança da religião e em particular os descendentes de Mohamed, seus filhos
e netos.
A expansão
para a África e Europa
A expansão da
religião muçulmana e respectiva ocupação político- -administrativa correu
relativamente rápido: à unificação da península arábica que terminou em 633,
seguiu- -se a travessia do deserto Arábico e a conquista do Império Bizantino e
logo aconteceu a tomada de Damasco de Jerusalém. Passados 15 anos a Síria,
Palestina e Egipto são totalmente ocupados. 20 anos depois, o Império Persa
(hoje Irão) foi tomado pelos muçulmanos e logo a seguir o Afeganistão e a maior
parte do Punjab na Índia, após o que o Islão se expandiu para a África do Norte
(Líbia, Tunísia, Argélia e Marrocos).
A partir de
Tanger, no Marrocos, a dominação muçulmana entrou em Espanha, Portugal e
França, tendo a corrente conquistadora sido travada em Poitiers em 732 pelo rei
dos francos (Charles Martel). O espírito tolerante do Islão da época
mantinha-se activo em relação às outras religiões e crenças religiosas com quem
viviam em harmonia e estreita cooperação. Havia liberdade de movimentos e de
comércio.
A reacção
cristã - as cruzadas
É em Novembro de
1095 que o Papa Urbano II apelou a todos os cristãos para se unirem e
libertarem os lugares Santos ocupados pelos muçulmanos, um claro posicionamento
político da igreja cristã, seguramente também no interesse económico das
classes dominantes europeias.
Estas expedições
cristãs e militares de conquista, se chamaram na época de “cruzadas” que
ocorreram do Século XI (1095) até ao Século XV (1492). Diziam os religiosos da
época que era para combater aos “infiéis”. Na realidade o objectivo era também
político e económico.
O Papa Urbano II
proclamou a primeira cruzada em 1095 com o objectivo de combater os “infiéis”,
que eram os muçulmanos. Hoje, para os muçulmanos, os “infiéis” são os
ocidentais, cristãos, judeus e até os muçulmanos considerados moderados pelos
fundamentalistas islâmicos.
Durante quatro
séculos são organizadas expedições punitivas militares cristãs para combater e
desalojar os “infiéis” muçulmanos das áreas cristãs por eles ocupadas. A estas
expedições militares, chamadas de “cruzadas”, muitas delas organizadas e
financiadas por comerciantes e especuladores com o fim exclusivo de roubar e
saquear as riquezas dos crentes do Islão no Médio Oriente.
O exemplo típico
deste tipo de “cruzadas” para pilhagem é a quarta “cruzada”6 organizada
e financiada por comerciantes gananciosos e especuladores da próspera cidade de
Veneza, no papado de Inocêncio III.
Fica a percepção
que são os interesses políticos e económicos dos membros influentes destas
religiões monoteístas, que as usam para atingir seus interesses de grupo ou
mesmo para defesa do interesse nacional dos países a que pertencem.
As religiões em
si estão estruturadas para cada vez mais ganharem seguidores e terem influência
moral positiva nas sociedades onde se inserem defendendo a paz, a harmonia, a
justiça social, os bons costumes e a convivência pacífica.
Excepções são as
correntes fundamentalistas e violentas, que já existiram na religião cristã e
mais recentemente se desenvolvem no seio da religião muçulmana, como é o caso
da Al-Qaeda7, Boko Haram8, Al Shabab9, etc.
O
fundamentalismo religioso
O fundamentalismo
islâmico foi incentivado, treinado, financiado e fortemente apoiado pela CIA
americana para combater à penetração comunista da URSS no Afeganistão e em
outras regiões muçulmanas onde a ameaça comunista era uma ameaça para os
Estados Unidos da América, ao mesmo tempo que a CIA introduzia as bases para
desestabilizar a própria União Soviética no quadro da confrontação bipolar:
Leste-Oeste; Osama bin Laden, embora multimilionário, usufruiu também do
importante apoio financeiro e logístico americano para combater ao comunismo,
mas cedo se deu conta que os inimigos do Islão eram também os novos
colonizadores como os EUA e seus aliados inclusive a Arábia Saudita.
Para os
fundamentalistas estes são os novos “infiéis” contra quem é preciso lutar para
libertar as riquezas árabes (hidrocarbonetos) controladas pelo Ocidente por
razões e interesses geo-estratégicos.
Estes “infiéis”,
para os fundamentalistas, compreendem ainda os regimes laicos e moderados
árabes (Iraque de Saddam Hussein e da Síria de Bashar al-Assad) que é preciso
combater. É a “Jihad” violenta na interpretação fundamentalista de Bin Laden
que para o efeito criou uma poderosa organização terrorista, a Al-Qaeda.
O Estado Islâmico
é uma nova organização fundamentalista que advoga a Guerra Santa contra os
mesmos “infiéis”, com o objectivo bem preciso de dominar territórios e
administrá-los, explorando suas riquezas e criando uma espécie de “região
libertada” daqueles “infiéis”, onde a Sharia10 ou Lei de Deus
deve predominar.
O Estado
Islâmico, que usa a bandeira negra dos califados do início do Islão, quis
absorver a Al-Qaeda, mas Bin Laden resistiu e não aceitou, embora hoje pareça
haver coordenação entre as duas organizações terroristas actuando
particularmente em África.
As religiões
monoteístas em Moçambique
Quando os
portugueses chegaram à Ilha de Moçambique em 1498 (Vasco da Gama) esta era
controlada por um entreposto árabo-muçulmano, ligado ao Sultanato de Kilwa, no
Sul da actual Tanzânia.
Acabaram os
portugueses dominando a Ilha em 1507 construindo fortes e capelas cristãs,
tendo desenvolvido o comércio marítimo entre a África, a Europa e a Ásia, o que
atraiu outros europeus interessados no mesmo comércio particularmente das
especiarias.
No século XVIII
entrou o lucrativo comércio dos escravos. Terá sido por volta do Século XIII
que a religião muçulmana chegou efectivamente à Ilha pelos comerciantes
árabo-swahili. Somente no início do Século XX os portugueses assumiram o
controlo efectivo do litoral de Moçambique, em particular no norte, até então sob
autoridade muçulmana de Sultanatos e Sheiks independentes.
Nos Séculos XIV e
XV era o poderoso Sultanato de Kilwa que controlava o comércio e praticamente
administrava os territórios do litoral moçambicano de Sofala ao Rovuma.
Nos finais do
Século XV, a Ilha de Moçambique é um território afro-muçulmano dependente do
sultanato de Kilwa com os entrepostos comerciais principais em Quelimane e
Angoche.
Os árabes de Oman
tentam se introduzir no comércio da Ilha tendo-a atacado militarmente duas
vezes: em 1669 e em 1704, sem sucesso. Acabaram por concluir um acordo com os
portugueses para que sua influência e comércio não desçam a Sul do Rio Rovuma.
Hoje a Ilha
comporta mais de 90% de pessoas muçulmanas ou islamizadas. A religião muçulmana
é a segunda maior religião em Moçambique logo a seguir ao cristianismo nas suas
diferentes variantes.
Numa análise,
ainda que superficial, a religião muçulmana, após a Independência nacional, vem
ganhando cada vez mais crentes e cobrindo mais território criando um ambiente
que os fundamentalistas querem aproveitar para recrutar adeptos.
Al-Qaeda e
Estado Islâmico
Para efeitos
destas notas vou considerar a criação da Al-Qaeda como o marco de referência do
aparecimento do fundamentalismo/terrorismo islâmico.
Quando a URSS
invadiu o Afeganistão (1979), a aliança dos serviços secretos do Paquistão
(Inter-Service), da Arábia Saudita e de outras monarquias do Golf, coordenados
e financiados pela CIA americana, concertaram-se para combater o comunismo no
Afeganistão.
O
multi-milionário Saudita, Osama bin Laden, foi mobilizado como coordenador do
recrutamento de 10.000 muçulmanos radicais para combater militarmente as tropas
soviéticas no Afeganistão. Em pouco tempo tinha reunido 100.000 “combatentes da
Liberdade” (“mujahidin”11) para se juntarem ao programa da luta financiada pela
CIA e pelos lucros do negócio da droga (ópio) cultivada nas montanhas do Irão,
do Afeganistão e do Paquistão, num orçamento total na ordem dos 10 mil milhões
USD.
A CIA encorajou a
“Jihad” fomentando o fundamentalismo islâmico para combater o comunismo,
desintegrar a URSS e garantir o controle dos recursos energéticos e a segurança
dos oleodutos da região.
A URSS havia
invadido o Afeganistão exactamente para travar a ameaça do radicalismo
muçulmano e garantir estabilidade dos seus interesses na região. Ao mesmo tempo
a CIA fomentou novos núcleos fundamentalistas muçulmanos para desestabilizar as
regiões islamizadas da URSS.
A Al-Qaeda,
conhecida organização terrorista islâmica, foi fundada por Osama bin Laden em
Agosto de 1988 no Paquistão. Al-Qaeda significa “a base” ou “o alicerce” com
objectivos geopolíticos ainda que de natureza religiosa muçulmana de orientação
sunita; era a “base” ou os “alicerces” da “jihad” para combater os violadores
da Lei de Deus.
Terminada a luta
contra os soviéticos, bin Laden reorientou a sua organização para a luta contra
os inimigos do Islão tendo à cabeça os EUA que considera ser o “grande Satã”
que, com seus aliados ocidentais, controlam os recursos energéticos dos
muçulmanos, um novo tipo de opressão e exploração que apelidou de
neocolonialismo dos ocidentais.
A Al-Qaeda mudou
sua sede para o Afeganistão desenvolvendo núcleos no Iémen, Arábia Saudita,
Iraque, Sahara, Sahel12, África do Norte, Somália (com o nome de al-Shabab)
tendo inspirado a criação de vários grupos jihadistas como o Boko- -Haram na
Nigéria e os Talibans no Afeganistão.
De passagem se
diga que, o fundamentalismo islâmico, neste caso de orientação xiita, tomou a
poder no Irão em 1979, constituindo um grande Estado Islâmico num território
bem definido que era a antiga nação da Pérsia.
O Estado Islâmico
é uma nova organização fundamentalista islâmica criada pós a invasão do Iraque
em 2003 com o nome de Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS13)
tendo o núcleo inicial sido formado em 1999. Em Outubro 2006 foi implantado o
estado Islâmico de orientação sunita no Iraque cobrindo 6 províncias, com o
objectivo de também neutralizar as correntes xiitas no Iraque tendo-se
autonomizado da Al-Qaeda em 2004.
Al-Qaeda e o
Estado Islâmico passaram a competir para liderar ao nível mundial a “Jihad”
contra os “infiéis” com o “grande Satã” à cabeça (EUA) e seus aliados
ocidentais (Reino Unido e França) e ainda os regimes árabes aliados aos EUA
como Arábia Saudita e todos os estados arabo-muçulmanos laicos ou moderados
como é hoje a Síria e o Egipto e foi no passado o Iraque de Saddam Hussein.
Há indicações
recentes que, em África, Estado Islâmico e Al-Qaeda estão aliados para a
expansão da lei de Deus (Sharia) condição básica do fundamentalismo para
implantar o Estado Islâmico e aí içar a bandeira negra como nos antigos
califados.
Objectivos das
organizações fundamentalistas islâmicas
O objectivo
estratégico do fundamentalismo é de natureza política e visa ganhar território
e populações islamizadas ou a islamizar, com o fim de implantar um estado capaz
de o administrar, gerindo as riquezas existentes no mesmo, para produzir as
receitas que viabilizem essa gestão: daí a designação de Estado, neste caso
islâmico.
Os
fundamentalistas utilizam o terrorismo como arma principal para desestabilizar
a ordem estabelecida, ocupar território e implantar uma nova ordem (Sharia)
para administrar o território conquistado ou “Zona Libertada” de infiéis.
Acontece que,
como no passado, os fundamentalismos religiosos foram essencialmente utilizados
por grupos mafiosos para tirar vantagens pessoais ou de grupo como as cruzadas
dos comerciantes de Veneza e mais recentemente os grupos jihadistas que
utilizam suas acções para encobrir o comércio de drogas várias, o contrabando
de armas, álcool e mercadorias diversas.
Na Libya venderam
petróleo a contrabandistas e no Sahel o contrabando de armas, droga, álcool e
outros bens, é negócio bilionário.
Fundamentalismo
islâmico em Moçambique
Em Moçambique o
terrorismo do chamado fundamentalismo islâmico pode ter motivação
político-religiosa. Na minha opinião tudo leva a crer que os
pseudo-fundamentalistas pretendem ganhar terreno com vista a ter acesso e
usufruir das riquezas existentes, em particular pedras preciosas e
semipreciosas, madeiras, ouro e outros bens, implantando um Daesh14.
Outro objectivo
poderá ser o controle de território para a recepção da droga pesada proveniente
do Afeganistão e do Paquistão e seu escoamento na região e para outros destinos
mais distantes (Europa, África Central e do Nordeste).
Segundo
informações da imprensa diária, o volume do negócio clandestino da droga em
Moçambique atinge vários mil de milhões de USD.
Outro possível
objectivo da acção terrorista, este escondido dos executantes, pode ser
retardar ou mesmo paralisar o projecto de gás natural para favorecer países
produtores da península arábica e do Médio-Oriente receosos que o gás natural
de Moçambique lhes venha a tirar o seu mercado natural que são os países no
norte do Oceano Indico e do Extremo Oriente.
*General da
Reserva
Bibliografia
t O Islão e o
Ocidente, de Jaime Nogueira Pinto
t O Estado
Islâmico, de Jessica Stern e J.M.Berger
t Formação do
Império Americano, de Luiz A.Moniz Bandeira
t Ilha de
Moçambique - uma herança ambígua, de Sévérine Cachat.
t Wikipedia
t Artigos da
imprensa escrita.
1 Estado Islâmico
(EI) - nasce da al-Qaeda do Iraque, constituindo-se em Estado Islâmico num
vasto território.
2 Califa -
originariamente é o chefe religioso e governante de uma comunidade muçulmana.
3 Jihad -
originariamente, luta interior de carácter espiritual, agora interpretada pelos
fundamentalistas como luta violenta.
4 Xiitas -
corrente muçulmana minoritária que reconhece Ali, genro do Profeta, como o
legítimo sucessor de Mohamed.
5 Sunitas - ramo
maioritário do Islão, conhecido como o Islão ortodoxo.
6 Quarta cruzada
- 1202 a 1204 - saquearam cristãos e muçulmanos.
7 Al-Qaeda -
organização jihadista fundada por Osama Bin Laden no Afeganistão.
8 Boko Haram -
organização jihadista, operando na Nigéria e países do Sahel.
9 Al-Shabab - é o
braço da Al-Qaeda na Somália.
10 Sharia -
código moral e religioso da lei islâmica, com interpretações diversas.
11 Mujahidin -
plural de “mudjahid”, combatente muçulmano.
12 Sahel -
extensa região que vai do sul do deserto do Sahara até ao Sudão, compreendendo
o Mali, Níger, Tchad, entre outros.
13 ISIS –
Islamic State of Iraq and Syria.
14 Daesh - ou
Daash - designação do Estado Islâmico na língua árabe.
SAVANA – 26.06.2020
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