Polícias condenados a penas entre três e 24 anos pelo homicídio de observador eleitoral moçambicano
Maputo, 18 jun
2020 (Lusa) - O Tribunal Judicial da Província de Gaza, sul de Moçambique,
condenou hoje seis polícias a penas de prisão entre três e 24 anos de cadeia
pelo seu envolvimento no homicídio, em outubro último, do observador eleitoral
Anastácio Matavel.
O acórdão
proferido pela juíza Ana Liquidão condenou Tudelo Guirrugo, Edson Silica e
Alfredo Macuácua a 24 anos de prisão cada um, Euclídio Mapulasse a 23 anos, e
Januário Rungo e Justino Muchanga a três anos cada.
O sétimo arguido
e único civil no caso, Ricardo Manganhe, foi absolvido.
O tribunal
condenou ainda os seis polícias ao pagamento de uma indemnização de 1,5 milhões
de meticais (cerca de 19 mil euros) à família de Anastácio Matavel.
A juíza Ana
Liquidão disse que o coletivo não teve qualquer dúvida de que os arguidos
"cometeram o crime macabro".
O tribunal
considerou provados os crimes de homicídio qualificado, uns em autoria material
e outros em autoria moral, associação criminosa e falsificação praticada por
servidor público no exercício das suas funções.
Sobre o pedido da
família da vítima de ver o Estado moçambicano sentado no banco dos réus, a
juíza reafirmou a recusa, uma posição que já havia expresso no despacho de
pronúncia.
Ana Liquidão
sustentou que os arguidos agiram por "conta e risco próprio e não ao
serviço do Estado", sendo por isso improcedente o pedido de ver o Estado
responsabilizado pelo homicídio a título civil.
O advogado da
família, Félix Micache, manifestou desilusão com o facto de o Estado ter sido
exonerado de responsabilidade civil no caso, mas mostrou-se contente com a
condenação dos seis polícias.
"O nosso
maior objetivo era conseguir que o Estado de Moçambique respondesse civilmente
pelos prejuízos causadas à família, porque sabíamos que os réus seriam
condenados à prisão e foram condenados", declarou Félix Micache.
Micache contestou
ainda a indemnização determinada pelo tribunal para os seis arguidos
condenados, recordando que a família pretendia uma compensação de 35 milhões de
meticais (446,6 mil euros).
Por seu turno, o
advogado de quatro dos seis polícias condenados, Elísio de Sousa, contestou a
decisão do tribunal de condenar dois dos polícias e ter aplicado uma "pena
exagerada" a outros dois.
O tribunal
"prejudicou dois dos meus constituintes que foram arrastados para este
processo e em relação a outros dois, apesar de terem confessado a sua
participação no crime, houve algum exagero", declarou Elísio de Sousa.
O advogado
assegurou que vai recorrer do acórdão.
Os seis polícias
hoje condenados pertencem à Unidade de Intervenção Rápida (UIR), polícia de
elite moçambicana.
O único absolvido
dos sete arguidos que estavam em julgamento, Ricardo Manganhe, é um professor
primário que era acusado de ter emprestado a viatura aos polícias que
executaram o crime.
Formalmente, a
viatura pertence a Henriques Machava, autarca da cidade de Chibuto, província
de Gaza, e quadro da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no
poder.
Ricardo Manganhe
disse em tribunal que comprou a viatura de Henriques Machava, mas a mesma
continua registada em nome do autarca de Chibuto.
Um outro polícia
acusado de participação no homicídio, Agapito Matavel, é alvo de um processo
autónomo, por se encontrar foragido.
Dois agentes da
corporação, Nóbrega Chaúque e Martins William, morreram quando a viatura que
transportava os acusados capotou, durante a tentativa de fuga do local do
crime.
O homicídio de
Anastácio Matavel mereceu condenação no país e no estrangeiro, dado o caráter
violento, em plena campanha eleitoral, à beira da votação geral moçambicana de
15 de outubro do ano passado.
PMA // PJA
Lusa/Fim
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