Jornalistas impedidos de acompanhar julgamento de acusados de conspiração no centro do país

 

O Tribunal Judicial do Dondo, na província de Sofala, impediu hoje jornalistas de acompanhar a sessão de produção de provas do julgamento de seis pessoas acusadas de conspiração no centro do país.

Os jornalistas já estavam na sala quando, 10 minutos depois do início do julgamento, o juiz da causa, Carlitos Teófilo, pediu que se retirassem, alegando que a sessão iria abordar "matéria sensível".

Na sessão de hoje, espera-se que sejam ouvidos peritos da direção central do Serviço Nacional de Investigação Criminal que elaboraram o processo contra as seis pessoas acusadas de conspiração no centro de Moçambique.

O julgamento começou em 10 de julho e os seis arguidos são acusados de conspiração por alegadamente estarem associados à autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), um grupo dissidente do principal partido de oposição acusado pelas autoridades de estar a protagonizar ataques armados que já provocaram a morte de 24 pessoas desde agosto do ano passado no centro de Moçambique.

Entre os arguidos está o antigo deputado da Renamo Sandura Ambrósio.

O Ministério Público moçambicano considera que Sandura Ambrósio terá recrutado homens para a Junta Militar e apoiado financeiramente o grupo, que é liderado por Mariano Nhongo, um antigo líder de guerrilha da Renamo.

Durante o julgamento, Sandura Ambrósio negou que esteja envolvido no recrutamento de jovens para o grupo liderado por Nhongo, tendo a sua defesa pedido a sua liberdade provisória mediante termo de identidade e residência ou ao pagamento de caução.

O tribunal recusou o pedido de liberdade provisória.

Em 22 de julho, falando para jornalistas na cidade da Beira, em contacto telefónico a partir de um ponto incerto do centro de Moçambique, o líder dos dissidentes da Renamo, Mariano Nhongo, também negou que Sandura Ambrósio seja o financiador do seu grupo, associando a sua detenção a motivações políticas.

"Sandura foi detido porque liderou manifestações na Beira contra a vontade de Ossufo Momade [atual presidente da Renamo]", disse Nhongo, em alusão a um episódio, em fevereiro de 2019, em que membros do partido na Beira se manifestaram contra alegadas violações do estatuto, quando o presidente da Renamo decidiu que os delegados passariam a ser indicados por ele e não mais eleitos.

Sandura Ambrósio foi deputado da Renamo no mandato que terminou em janeiro, mas já havia anunciado a saída do partido em 2019 para se filiar ao Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira maior formação política com representação parlamentar.

O ex-deputado concorreu a mais um mandato nas eleições legislativas de 15 de outubro do ano passado pelo MDM no círculo eleitoral de Sofala, mas não conseguiu a reeleição.

A autoproclamada Junta Militar contesta a liderança da Renamo e o acordo de paz assinado em agosto do último ano, sendo acusada de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região centro do país.

Além de Sandura, são arguidos do processo António Bauase, Domingos Marime, Gabriel José Domingos, Eugénio Joaquim Domingos e Aníva Bernardo.

LUSA – 07.08.2020

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