Recuperação de Mocímboa da Praia por parte das FDS

 

Estratégia militar divide cérebros

O Comandante geral da Polícia da República de Moçambique, Bernardino Rafael, visitou, ao longo da semana passada, as posições das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no teatro operacional norte.

Também em resposta às críticas de fechamento e quase proibição de se noticiar o conflito que, desde Outubro de 2017, grassa a província de Cabo Delgado, o dirigente policial incluiu, na sua missão, jornalistas representando vários órgãos de comunicação social.

No fim da missão, falando em conferência de imprensa, Bernardino Rafael negou a ideia de que a vila de Mocímboa da Praia e o respectivo porto estivessem nas mãos ou sob o controlo de bandos terroristas. Entretanto, segundo deu a entender, a vila e o porto de Mocímboa da Praia são, neste momento, uma espécie de terra abandonada.

Ou seja, sem ocupação efectiva terrorista, mas também sem ocupação real por parte das Forças de Defesa e Segurança.

Esta colocação dá a ideia de que a batalha pelo controlo efectivo do porto e da vila continuam a ser a causa dos combates que continuam a ser relatos. E, nalgumas vezes, confirmados pelo executivo de Maputo.

Nisto, a África Monitor Intelligence, uma reconhecida publicação de análise da actualidade do continente, citando fontes inside das operações em Cabo Delgado, dá a indicação de haver divergências significativas na interpretação da real e actual situação do porto e da vila e, por isso, a dividir opiniões sobre as opções de avanço para a recuperação efectiva daquele estratégico espaço geográfico.

Ao que parece, a grande dificuldade está em obter indicações precisas da localização inimiga, assim como informação exacta da presença ou não da população civil na vila. É que informação segura sobre quem, efectivamente, está neste momento na vila e no porto de Mocímboa da Praia é fundamental para as opções militares de ataque.

Esta questão surge muito pelo facto de parte de estrategas militares pretender potenciar uso de meios aéreos.

Nisto, entra a possibilidade de se recorrer aos recondicionados MIG 21, o pouco que existe da quase desmantelada Força Aérea de Moçambique. Esta potenciação do uso da força aérea, incluindo os meios da força moçambicana, seria potenciada pela capacidade operativa dos mercenários da DAG.

A ideia de recurso forte à força aérea é justificada e suportada pela crescente ideia de que na vila de Mocímboa da Praia só há terroristas e não população civil. E mais. Defende-se que maior parte das infra-estruturas, tanto públicas, assim como privadas, foram destruídas pela saga terrorista.

O que está ainda em pé, diz-se, foi deliberadamente deixado pelos terroristas para servir de abrigo e esconderijo sempre que os helicópteros bombardeiros da DAG tentam identificar elementos do terror em Mocímboa.

A operação dos meios aéreos seria seguidamente acompanhada por uma grande e estável ofensiva terrestre.

“…Mas o Comando Militar e Político apresenta divergências profundas em relação a opção” – refere a Africa MonitorIntelligence, que indica o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, Lázaro Menete, como defensor da opção militar aérea.

Ao que parece, as reticências estão mais do lado político, que a todo o custo procura evitar cálculos imprecisos, com potencial de tirar vidas a populações civis.

Aliás, politicamente também procura-se afastar o máximo possível as críticas internacionais, numa altura que Moçambique tenta recuperar imagem depois de vários escândalos internacionais, a exemplo das dívidas ocultas e, mais recentemente, a questão da violação dos direitos humanos no conflito de Cabo Delgado.

A publicação internacional diz mesmo que Lazaro Menete, formado nos anos 1980, na antiga URSS, já levou a opção à mesa do Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança, Filipe Nyusi, mas alguns conselheiros do Presidente da República desaconselharam o caminho. O grupo conselheiros aventa a hipótese de permanência de alguma população civil não por vontade ou opção, mas sim por ter sido obrigada a permanecer, servindo de escudo terrorista. A Força Aérea de Moçambique dispõe de, pelo menos, oito aviões caça bombardeiros devidamente operacionais, modelo MIG 21 reconstruídos e reequipados entre 2013/14, nas oficinas da Aerostar, em Bacau, na Roménia.

Mas comenta-se muito sobre o grau de eficácia dos seus mísseis e da competência dos seus pilotos.

A AfricaMonitor relata ainda que a ofensiva dos pelotões em terra em direcção à Mocímboa da Praia acontecem com bastante avanços e recuos, havendo a hipótese de uma das pretensões dos terroristas ser a ocupação da vila por algum tempo, atrasando ou evitando o avanço das FDS às suas principais bases, que se acredita estarem escondidas nas densas matas de Mbau, distrito de Mocímboa da Praia.

Em algum momento, o avanço das FDS esteve a sensivelmente 15 quilómetros da vila de Mocímboa da Praia.

MEDIA FAX – 29.09.2020

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