Moçambique/Ataques: Mais de mil empresas encerradas e 174,4 ME perdidos
Maputo, 15
abr 2021 (Lusa) - Os ataques armados no norte de Moçambique provocaram perdas
de 209 milhões de dólares (174,4 milhões de euros) e levaram ao encerramento de
1.110 empresas, disse hoje, em entrevista à Lusa, o presidente da
Confederação das Associações Económicas (CTA).
Agostinho
Vuma avançou que daquele valor há uma parcela de 100 milhões de dólares (83,4
milhões de euros) que corresponde a prejuízos somados na produção agrária,
95 milhões de dólares (79,2 milhões de euros) de capital físico e 14 milhões de
dólares (11,7 milhões de euros) de 'cash flow' (fluxo de caixa)
"nas diversas cadeias de valor".
Vuma
assinalou que os números abrangem prejuízos causados ao tecido empresarial de
todos os distritos diretamente afetados pela ação de grupos armados na
província de Cabo Delgado durante três anos e meio de violência armada na
região, mas não incluem o impacto do ataque de dia 24 de março à vila de
Palma, a cerca de seis quilómetros do complexo industrial dos projetos de gás
natural, na península de Afungi, porque ainda está em curso um levantamento.
Apesar de
ainda estar a decorrer a avaliação, o responsável referiu que "a suspensão
das atividades do projeto de LNG (gás natural liquefeito) em Afungi pode
afetar, de forma significativa, um grande número de empresas e suas ligações
nas cadeias de valor".
Do total de
empresas que foram obrigadas a fechar devido à violência armada na província de
Cabo Delgado, 410 são dos distritos diretamente afetados pelos ataques,
nomeadamente Macomia, Muidumbe, Nangade, Quissanga, Mocímboa da Praia e Palma.
"As
outras 750 empresas sofreram impactos indiretos devido à sua exposição nas
diversas cadeias de valor, cujo fluxo [de atividade] foi interrompido na
sequência do recente ataque ao distrito de Palma", sublinhou o presidente
da CTA.
Agostinho
Vuma apontou que 198 mil empregos foram perdidos, dos quais 56 mil nas unidades
empresariais dos distritos afetados pela violência e 143 mil no setor agrário
familiar, durante os mais de três anos de conflito.
Apesar de a
avaliação dos efeitos da suspensão do projeto de gás natural da multinacional
francesa Total estar ainda a decorrer, Vuma adiantou que "várias
empresas" correm o risco de ver cair os contratos de
fornecimento, criando-se uma situação de incerteza sobre "alguns
produtos em trânsito”, nomeadamente produtos perecíveis.
"Defendemos
a necessidade de uma intervenção urgente para minimizar este impacto" dos
ataques à vila de Palma, destacou o presidente da CTA.
O
responsável defendeu um pacote de estímulos para a recuperação do tecido
empresarial de Cabo Delgado, através de intervenções nos planos financeiro e
fiscal, bem como a introdução de uma legislação laboral mais flexível.
As empresas
em Cabo Delgado, continuou, precisam de créditos com "taxas de juro
amigas" e de um "regime laboral flexível", com um quadro
normativo que garanta a contratação e redução de mão-de-obra que não ponha em
causa a sobrevivência dos negócios.
Agostinho
Vuma assumiu que a sustentabilidade do tecido empresarial ligado aos
megaprojetos de gás natural em Cabo Delgado depende da restauração da paz na
província, apelando ao Governo para encontrar soluções para o fim da violência.
A violência
armada em Cabo Delgado dura há três anos e meio, mas ganhou uma nova escalada a
24 de março quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de
Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de
gás natural.
A incursão
provocou dezenas de mortos e obrigou à fuga de milhares de residentes
de Palma, agravando uma crise humanitária que já fez mais de 2.500 mortos,
segundo contas feitas pela Lusa, e atinge cerca de 700 mil pessoas
deslocadas desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações
Unidas.
PMA // VM
Lusa/Fim
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