O Governo devia parar de negociar restruturação das dívidas ocultas
O Governo de Moçambique devia abdicar de negociações sobre a restruturação
das dívidas ocultas, depois de o Conselho Constitucional ter considerado nula a
dívida da Ematum (Empresa Moçambicana de Atum), defendeu hoje, em Maputo, o
economista Carlos Nuno Castel-Branco.
“A dívida pública
ilícita é ilícita e é também ilícito o Estado estar a assumir essa dívida”,
afirmou Carlos Nuno Castel-Branco, à margem de uma conferência do Instituto de
Estudos Sociais e Económicos, uma organização da sociedade civil moçambicana.
O economista e
académico considerou contraproducente que as autoridades moçambicanas mostrem
disponibilidade para ressarcir os credores daquelas dívidas, quando o Conselho
Constitucional (CC) e a Procuradoria-Geral da República já declararam que os
encargos foram assumidos pelo anterior Governo moçambicano à margem da lei.
“Não lhes vale de
muito [às autoridades judiciais] estarem a prender os hipotéticos autores das
dívidas e aos seus eventuais mandantes, se os cidadãos [moçambicanos] tiverem
de pagar essas dívidas”, disse.
Os moçambicanos
não autorizaram nem beneficiaram das dívidas ocultas, insistiu Carlos Nuno
Castel-Branco.
“É interessante
como na ação governativa é mais importante a defesa dos interesses financeiros
dos especuladores do que a soberania, legalidade e democracia de Moçambique”,
frisou.
No início deste
mês, os portadores de títulos soberanos de Moçambique aprovaram a
reestruturação da dívida de 726,5 milhões de dólares que teve origem na empresa
pública Ematum, anunciou o Governo em 09 de setembro.
“A proposta foi
aprovada por meio de uma deliberação escrita dos obrigacionistas detentores de
99,5% do valor agregado do capital das notas existentes em dívida”, lê-se em
comunicado do Ministério da Economia e Finanças.
O documento
adianta que o voto favorável “inclui o Grupo Global de Obrigacionistas de Moçambique”,
que representa 68% dos títulos e que já tinha declarado apoio à proposta,
restando chegar aos 75% de votos favoráveis para a reestruturação ter efeito,
fasquia que foi superada.
“A resolução
escrita entrará em vigor após a satisfação das condições de liquidação e
espera-se que a distribuição inicial dos direitos ocorra no dia 30 de setembro
de 2019″, acrescentou a mesma nota.
O caso das
dívidas ocultas está relacionado com as garantias prestadas pelo anterior
executivo moçambicano, durante os mandatos de Armando Guebuza, a favor de
empréstimos de cerca de 2,2 mil milhões de dólares para as empresas públicas
Ematum, MAM e Proindicus.
A justiça
moçambicana e a justiça norte-americana, que também investiga o caso,
consideram que parte desse dinheiro foi usada para o pagamento de subornos a
cidadãos moçambicanos e estrangeiros
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