O CDD defende envolvimento externo no caso do homicídio de observador eleitoral
O Centro de
Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental (ONG)
moçambicana, defendeu hoje o recurso aos mecanismos internacionais de defesa
dos direitos humanos para a responsabilização do Estado moçambicano pela morte
de um observador eleitoral em outubro.
A posição do CDD
está expressa numa análise a uma notícia que refere que dois dos cinco agentes
acusados pela Procuradoria Provincial de Gaza de envolvimento na morte de
Anastácio Matavel foram promovidos pelo comandante-geral da Polícia da
República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael.
"Em vez de
responsabilizá-los, os agentes envolvidos foram promovidos a escalões
superiores da Polícia da República de Moçambique, três meses após a
concretização do assassinato [de Anastácio Matavele]", diz o texto.
O crime,
prossegue, foi superiormente planificado ao nível do Estado, sendo, por isso,
um crime de Estado.
"Passados
quatro meses após o crime, a justiça moçambicana não está a fazer o suficiente
para julgar e condenar os assassinos, incluindo o ressarcimento da família da
vítima", refere a análise.
Neste contexto, o
assassinato de Anastácio Matavele é um assunto que deve ser levado aos
mecanismos internacionais de defesa de direitos humanos para que o Estado seja
responsabilizado pelos atos dos seus agentes, concluiu a análise.
Na sua última
edição (sexta-feira), o semanário moçambicano Savana escreve que o
comandante-geral da PRM promoveu, em dezembro, dois dos cinco agentes acusados
pelo Ministério Público de envolvimento no assassínio de Anastácio Matavele,.
Despachos
assinados por Bernardino Rafael, e datados de 27 de dezembro, mostram que Edson
Silica foi promovido a subinspetor da polícia e Agapito Matavele a sargento.
A Lusa tentou,
sem sucesso, ouvir o comando-geral da PRM.
Edson Silica e
Agapito Matavele foram acusados pela Procuradoria Provincial de Gaza de
participação no assassinato de Anastácio Matavel, representante da Sala da Paz,
uma coligação de ONG ligadas à observação eleitoral em Moçambique.
Matavel foi
baleado na via pública, em pleno dia, uma semana antes das eleições gerais, a
15 de outubro passado.
Em novembro, a
Procuradoria Provincial de Gaza, sul do país, acusou oito arguidos pelo crime,
incluindo cinco agentes.
O homicídio de
Anastácio Matavel provocou repúdio e condenação em Moçambique e fora do país,
por se tratar de um ativista da sociedade civil envolvido na observação
eleitoral e que morreu durante a campanha para as eleições, numa província
conhecida pela intolerância política contra opositores da Frente de Libertação
de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
LUSA – 27.01.2020
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