CNE guineense faz novo apuramento
A Comissão
Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau anunciou um novo apuramento nacional
dos resultados das presidenciais. Jurista defende contabilização mesa a mesa.
Mas candidatura de Sissoco Embaló discorda.
Três dias depois
da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ter ameaçado
com sanções a quem impeça a normalização política da Guiné-Bissau, a Comissão
Nacional de Eleições (CNE) voltou atrás na sua decisão e aceitou fazer, na
terça-feira (25.02), feriado nacional de carnaval, o apuramento nacional
dos resultados das presidenciais, como exige o Supremo Tribunal de Justiça.
Antes, a CNE
respondera à instância máxima da Justiça na Guiné-Bissa que já tinha feito
tudo o que tinha para fazer, dando por terminado o processo eleitoral.
Discute-se agora
em Bissau se deverá ser feito apenas o apuramento das atas regionais na posse
da CNE ou se serão compiladas as atas de todas as mesas de assembleia de
voto. Na convocatória entregue aos mandatários dos candidatos, a que a DW
África teve acesso, o presidente da CNE, José Pedro Sambú, pede que os
representantes dos candidatos se façam acompanhar de cópia de todas as atas de
apuramento regional.
Discussões
continuam
Depois da CNE
anunciar que vai convocar uma sessão plenária para voltar a fazer o apuramento
nacional dos resultados, o primeiro-ministro Aristides Gomes mostrou-se
satisfeito.
"Vemos isso com
bons olhos", afirmou em declarações aos jornalistas. "O cumprimento
da decisão judicial é algo que sempre nos leva à pacificação e acalmia dos
ânimos. A partir do momento em que não se cumprem as decisões judiciais, o
clima é necessariamente tenso e pode levar, sobretudo nos países frágeis, a
situações extremamente desagradáveis."
No entanto,
continuam as discussões sobre o tipo de apuramento que a CNE deveria fazer na
terça-feira.
Para o jurista
Luís Vaz Martins, um conhecido ativista dos direitos humanos, o Supremo
Tribunal pediu à comissão para fazer o apuramento desde as mesas de voto, e não
só a partir das atas das regiões.
"Aquele
acórdão não se resume à verificação das atas regionais. O acórdão foi bem claro
a dizer que há que fazer um recuo até às mesas, o que significa que
impreterivelmente há que quantificar todas as vindas das mesas, no sentido de
se fazer um apuramento nacional", afirma em entrevista à DW.
Vaz
Martins insiste que, se se tratasse apenas da CNE a fazer um apuramento
nacional com base nas suas atas regionais, a insistência do Supremo não faria
sentido.
Mas Abdu Mané, um
dos advogados de defesa de Umaro Sissoco Embaló, dado pela CNE como vencedor
das presidenciais, faz uma interpretação contrária.
"Que fique
claro que será feito o apuramento nacional com base nos dados regionais que
estão na posse da CNE. Que fique claro", diz.
"Também há
que ter em conta que as reclamações, os protestos ou contra-protestos, devem
ser feitos nas mesas de assembleia de voto, nas comissões regionais de eleições
e na CNE".
Sissoco quer
investidura para quinta-feira
Em nome do
coletivo de advogados de defesa de Sissoco Embaló, Abdu Mané, antigo
Procurador-Geral da República, acredita que a plenária convocada pela CNE não
vai alterar o resultado eleitoral, pelo que a candidatura já pediru à
Assembleia Nacional Popular a convocação da sessão extraordinária para a
investidura de Sissoco como novo Presidente da Guiné-Bissau, na quinta-feira
(27.02).
"Deu entrada
hoje no Parlamento um pedido de convocatória para uma sessão extraordinária,
uma sessão especial, para o empossamento do Presidente da República. O
requerimento já estão em mãos do presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá.
Agora, só tem que cumprir a lei", afirma em entrevista telefónica à DW África.
Abdu Mané avança
que, com este requerimento, o grupo parlamentar pretende apenas cumprir o que
está no Regimento da Assembleia Nacional Popular, e acusa o Supremo de atuar
fora da lei: "A entidade competente para declarar os resultados
eleitorais é a CNE. A CNE já cumpriu. O Supremo Tribunal foi além do que foi
pedido. Alguém quer fazer frete político ao candidato derrotado. O próprio
Supremo não cumpriu a lei".
Tudo volta à
estaca zero
Contudo, para o
jurista Luís Vaz Martins, com a convocação da plenária para terça-feira, a CNE
acaba por reconhecer que ainda não há um Presidente eleito, pois fará o
apuramento nacional e consequente divulgação dos resultados provisórios e
definitivos, novamente.
Nestas condições,
o jurista não vê como Sissoco pode ser investido na quinta-feira, como o próprio
anunciou.
"Tudo volta
à estaca zero, como se fosse um dia depois da votação no país. Só a CNE é que
fingia não ver que não há Presidente eleito sem fazer o apuramento nacional
antes da divulgação dos resultados. Podemos fazer todas as críticas possíveis,
mas jamais entrar na lógica de não cumprir com a deliberação do Supremo
Tribunal de Justiça", afirma o antigo presidente da Liga dos Direitos
Humanos, agora comentador político em Bissau.
Na sexta-feira
passada (21.02), a CEDEAO ameaçou
com sanções aos
atores guineenses que não contribuíssem para a normalização da Guiné-Bissau e
pediu para evitarem declarações que ponham em risco a paz no país.
DW – 24.02.2020
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