Eleições em Moçambique: Kroll deveria audiatar as contas dos observadores internacionais
Convidados pelo Governo da Frelimo, hospedados em hotéis de luxo à beira
mar, sem problemas de credenciação, alimentados com camarões frescos e direito
a escolta policial para abrir caminho das viaturas de luxo em que se fazem
transportar as oito missões estrangeiras que observam as Eleições Gerais do
passado dia 15 em Moçambique consideraram que a votação foi “ordeira”, “calma”,
“satisfatória”, “pacífica” e até “transparente”. Só faltou saudarem a reeleição
de Filipe Nyusi.
Acatando o aviso
do seu anfitrião, que através do ministro dos Negócios Estrangeiros e
Cooperação, José Pacheco, deixou claro que estavam em Moçambique para
“testemunhar eleições livres, justas, transparentes e credíveis”, os
observadores internacionais legitimaram nesta quinta-feira (17) mais um pleito
inquinado por fraudes, intimidação e assassinatos.
Para a Missão de
Observação da Comunidade dos Países da África Austral(SADC) “o ambiente em
torno das assembleias de voto foi na generalidade pacífico, delegados de
partidos e candidatos, observadores nacionais e estrangeiros estiveram
presentes na maioria das assembleias de voto observadas”.
A zimbabweana
Oppah C.Z. Muchinguri- Kashiri disse que a SADC concluiu que “o período
pré-eleitoral e a votação das eleições de 2019 foi na generalidade pacífico e
conduzido de maneira ordeira”.
Já a Missão de
Observação da União Africana (UA) “notou melhorias na legislação e gestão
eleitoral por forma a garantir que decorresse em linha dos padrões regionais e
internacionais de uma eleição democrática”.
“Apesar dos
desafios políticos e o ambiente de segurança a votação foi no geral calma e bem
administrada” avaliou o nigeriano GoodLuck Jonathan que chefiou a Missão de
Observação da UA.
Outro antigo
chefe de Estado africano, o ganês John Dramani Mahama, que a Missão de
Observação do Instituto Eleitoral para a Democracia Sustentável em África
(EISA), saudou Moçambique “por conduzir eleições regularmente e o seu
compromisso de manter uma paz sustentável”.
“Embora o
processo ainda não esteja concluído a Missão de Observação eleitoral do EISA
nota que o dia da votação decorreu de forma satisfatória”, avaliou o EISA.
Comissão
Nacional de Eleições cumpriu “missão de organizar as eleições Presidenciais,
Legislativas e Provinciais de modo transparente”
A Missão de
Observação da Commonwealth considerou que “o dia da votação foi largamente
pacífico”.
O queniano
Kalonzo Musyoka, que chefiou a Missão, chamou atenção para “alguns casos onde a
presença policial nas proximidades das assembleias de voto ultrapassou a
barreira dos 300 metros, determinados pela lei eleitoral, mas ficamos
impressionados com a confiança e entusiasmo dos membros das assembleias, na sua
maioria jovens de ambos os sexos”.
Na óptica da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) “o acto eleitoral do passado
15 de Outubro decorreu, na generalidade, em consonância com as práticas
internacionais de referência, no respeito pelos princípios democráticos e
políticos consagrados na Constituição da República de Moçambique e de acordo
com o estabelecido na lei eleitoral do país”.
O coordenador da
Missão de Observação Eleitoral CPLP, Mário Mendão, enfatizou “o excelente
trabalho desenvolvido pelas autoridades eleitorais sem prejuízo da
possibilidade de aperfeiçoamento do processo”.
André da Silva
Neto, Chefe da Missão do Fórum Eleitoral Comunidade dos Países da África
Austral (SADC-ECF), reconheceu “que a Comissão Nacional de Eleições de
Moçambique cumpriu com a sua missão de organizar as eleições Presidenciais,
Legislativas e Provinciais de modo transparente”.
Até a Missão da
União Europeia, único Parceiro de Cooperação que comparticipou nos custos das
Eleições deste ano, “entende que se realizou uma votação bem organizada”,
embora tenha sido “precedida por uma campanha marcada por violência, limitações
as liberdades fundamentais e dúvidas sobre a qualidade do recenseamento
eleitoral”, declarou o eurodeputado Sánchez Amor que chefia a equipa.
Avaliação
contrária têm as Organizações da Sociedade Civil moçambicanas cujos observadores,
enfrentando inimagináveis dificuldades para obterem uma simples acreditação da
Comissão Nacional de Eleições, reportam inúmeras tentativas de fraude,
intimidações e pelo menos dois baleamentos mortais protagonizados por agentes
da Polícia da República de Moçambique.
Tentativas de
fraude, intimidações e pelo menos dois baleamentos mortais por agentes da
polícia
Uma pessoa morreu
baleada e espancada pela Polícia, no Distrito de Nacala-Porto, na Província de
Nampula, durante a contagem de votos, reportam nossos correspondentes. O caso
deu-se na Escola Secundária São Vicente de Paulo, bairro de Ontupaia. Às 19h50
havia disparos de armas de fogo pela Polícia e a população a acender pneus,
reportam nossos correspondentes.
No mesmo posto,
quatro pessoas foram baleadas nos membros inferiores quando a Polícia tentava
dispersar as pessoas aglomeradas de acordo com o do Centro de Integridade
Pública (CIP).
No Distrito de
Angoche, a Polícia disparou granadas de gás lacrimogéneo para dispersar dezenas
de eleitores que pretendiam controlar voto na EPC de Namaripe. Após a votação,
eleitores apoiantes da Renamo permaneceram perto do posto de votação.
A confusão começou
quando simpatizantes da Renamo suspeitaram que os presidentes de mesas das
assembleias de votos estavam munidos de boletins de votos preenchidos a favor
da Frelimo. A Polícia não permitiu a revista dos presidentes o que gerou
confusão no local. A população nas proximidades do posto de votação
aproximou-se do local. Face à eminente confusão, a Polícia disparou 7 tiros ao
ar e granadas de a gás lacrimogéneo para dispersar a multidão aglomerada.
Ainda neste
distrito costeiro da Província de Nampula um cidadão foi baleado mortalmente
alegadamente após ter-se apoderado de uma arma das mãos de um agente da Lei e
Ordem. No local, três salas de aulas foram incendiadas pela Polícia. Não houve
desaparecimento de urnas. Já na EPC Eduardo Mondlane um membro da Frelimo foi
espancado por simpatizantes da Renamo por ter sido encontrado com uma faca e
uma catana no interior do posto de votação.
Na Ilha de
Moçambique, especificamente no Gulamo, a Polícia disparou três tiros para o ar
por volta das 19h00 para dispersar a população que se amotinou no local para
assistir a contagem.
Na Província da
Zambézia, no Distrito de Namacurra, alguns simpatizantes da Renamo não
abandonaram o recinto de votação na Escola Primária Saciana e não havia
disparos da Polícia ainda.
No Distrito de
Morrumbala, três agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), quatro agentes
da Polícia de Proteção e seis militares das Forças Armadas de Defesa de
Moçambique, todos altamente armados, impedindo a população de aproximar-se da
EPC de Sabe, onde decorria a contagem de votos.
O CIP apurou
neste Distrito da Província da Zambézia evidências que o partido Frelimo
distribuiu dinheiro a Membros das Mesas de Voto na véspera do dia da votação.
Presidentes das assembleias de voto terão recebido envelopes com 20 mil
Meticais na Administração distrital para distribuírem pelos integrantes das
mesas.
No distrito de
Derre, o presidente de uma mesa de voto invalidou votos do candidato da Renamo,
colocando tinta indelével com o dedo polegar em cada boletim com voto válido
para a Renamo. O caso registou-se na Escola Primária de Guerissa.
Na Província de
Sofala, no Distrito de Dondo, o presidente da assembleia de voto número 08, na
EPC Samora Machel, foi agredido por um membro da mesa indicado pelo MDM. O MMV
do MDM teria notado suposta movimentação de mochilas no interior da mesa de
voto. Informado sobre o assunto, o presidente não quis colaborar, o que
originou uma confusão. A Polícia foi chamada a intervir para repor a ordem.
Na Província de
Manica, no Distrito de Sussundenga a Polícia expulsou eleitores das
proximidades do posto de votação da EPC de Munhinga. Era simpatizantes do MDM e
da Renamo que depois de votar decidiram permanecer no local para evitar
enchimento de urnas.
Na Cidade de
Chimoio, um cidadão foi detido por fazer campanha pela Frelimo durante a
votação. O caso deu-se na Escola Secundária Eduardo Mondlane. Ainda em Chimoio
foi detido um delegado de candidatura da Renamo na Escola Secundária 7 de Abril
acusado de fazer campanha durante a votação.
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