Alegado militante 'jihadista' anuncia objetivo de impor lei islâmica em Moçambique
Um alegado
militante 'jihadista' justificou os ataques de grupos armados no norte de
Moçambique com o objetivo de impor uma lei islâmica na região, de acordo com um
vídeo distribuído hoje na Internet.
É a primeira
mensagem divulgada por autores dos ataques que ocorrem há dois anos e meio na
província de Cabo Delgado, gravada numa das povoações que invadiram.
O homem de
uniforme militar e cara tapada faz um apelo à luta sob a bandeira do grupo
extremista Estado Islâmico.
“Estamos a
chamar, sempre, para [quem assiste à mensagem] vir aqui lutar sob esta bandeira
(…), não queremos bandeira da Frelimo”, refere, defendendo “a lei que está no
Corão, como alá [deus] falou”.
A Frente de
Libertação de Moçambique (Frelimo) é o partido no poder desde a independência.
“Nós não estamos
a lutar sobre essa riqueza do mundo. Só queremos perdão”, referiu,
acrescentando que “quem quiser ficar islâmico, primeiro tem de morrer quando
está a lutar, sob luta de alá”.
A gravação foi
feita em pleno dia no muro da residência do administrador de Quissanga, vila da
província de Cabo Delgado invadida na quarta-feira e da qual toda a população
fugiu, sendo o local identificado à Lusa por um habitante da região ao ver o
vídeo.
Noutros momentos,
o vídeo mostra ainda as ruas da vila desertas, com fumo e chamas.
Dois analistas
ligados a empresas de segurança que acompanham a violência armada em Cabo
Delgado disseram à Lusa aceitar a gravação como legítima, em linha com as
fotografias divulgadas na quarta-feira pelo grupo armado junto a edifícios da
vila.
A invasão de
Quissanga aconteceu 48 horas depois de homens armados terem ocupado Mocímboa da
Praia, 120 quilómetros a norte, uma das principais zonas urbanas de Cabo
Delgado, onde enfrentaram as forças de defesa e segurança moçambicanas provocando
um número ainda indeterminado de baixas antes de saírem da povoação.
Não houve mais
informação, nem sobre vítimas ou prejuízos em Mocímboa da Praia, sendo que
residentes relataram ter encontrado corpos pelas ruas, além de vários edifícios
incendiados – tais como bancos e representações do Estado.
As autoridades
moçambicanas confirmaram o ataque a Mocímboa da Praia, sem mais informação e
ainda não se pronunciaram sobre a ocupação de Quissanga desde a madrugada de
quarta-feira.
Bartolomeu Muibo,
administrador de Quissanga, disse hoje à Lusa, tal como já havia referido na
quarta-feira, a partir de Pemba, que desconhece se a vila continua ocupada ou
se há residentes que já tenham regressado devido a dificuldades de comunicação.
Outros contactos
telefónicos efetuados pela Lusa têm-se revelado infrutíferos.
A província de
Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados que organizações
internacionais classificam como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio
já fizeram, pelo menos, 350 mortos além de 156.400 pessoas afetadas com perda
de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.
LUSA – 26.03.2020
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