Governador de São Paulo pede avaliação psíquica de Bolsonaro
Brasília, 28
mar 2020 (Lusa) - O governador do estado brasileiro de São Paulo, João Doria,
acusou hoje o Presidente do país, Jair Bolsonaro, de não estar "em plenas
faculdades mentais" para liderar o país, após ter desvalorizado a pandemia
do novo coronavírus.
Em entrevista
à agência Efe, João Doria, que governa aquele que é o estado mais rico e
populoso do Brasil, mas também o mais afetado pela covid-19, mostrou ser o
exemplo do mal-estar entre as autoridades estaduais e municipais do país face à
retórica de Bolsonaro, a quem acusam de subestimar a covid-19 e de incitar a
população a regressar à sua vida normal de forma a não prejudicar a economia.
São Paulo, que
possui 46 milhões de habitantes, é o estado brasileiro mais afetado pela
covid-19, contabilizando 84 mortos e 1.406 infetados. Contudo, o chefe de
Estado disse na sexta-feira que desconfia do número de mortes e infeções
apresentadas por aquela unidade federativa.
Face a essas
desconfianças, Doria diz que Bolsonaro não está em "plenas faculdades
mentais".
"O
Presidente da República, numa entrevista a uma estação de rádio de São Paulo,
acusou o governo regional de falsificar os atestados de óbito de brasileiros
que morrem de coronavírus (...) Temos um Presidente que não está em plenas
faculdades mentais para poder liderar o país", defendeu Doria.
O governador
acusou Bolsonaro de estar "desconectado da realidade", acrescentando
que "não é razoável" que um Presidente da República classifique uma
pandemia mundial como a do coronavírus (mais de 30.000 mortes) como uma
"gripezinha".
"Também
não é razoável que o próprio Governo realize uma campanha pedindo às pessoas
que saiam de casa ao mesmo tempo em que a Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda que as pessoas fiquem em casa. É um ato de profunda
irresponsabilidade e falta de respeito ao ser humano", afirmou.
"São
Paulo tem 46 milhões de habitantes, quase a mesma população da Espanha. Aqui,
não será aplicada uma medida que coloca em causa a vida de milhões de
brasileiros que vivem em São Paulo. A nossa posição é que as pessoas fiquem em
casa, seguindo as diretrizes da OMS", reforçou.
Após ser
questionado sobre o que faria de diferente se estivesse no poder, Doria, que é
apontado como candidato às eleições presenciais brasileiras de 2022, advogou
que cabe ao Congresso brasileiro avaliar e decidir sobre o que fazer com um
chefe de Estado "que não tem capacidade de racionalizar, interpretar e
liderar um país".
"Eu, como
governador, não devo dizer nada sobre o que pode ser feito. Noto, sim, a
sucessão de medidas equivocadas, que ameaçam a ordem pública e a vida das
pessoas. Não é razoável alguém com o mandato de Presidente da República cometa
esses erros tantas vezes em tão pouco tempo. Não é de alguém que está
psicologicamente bem, é de alguém que sofre de algum tipo de problema
psiquiátrico", frisou mais uma vez João Doria.
O governador
de São Paulo foi aliado de Bolsonaro no passado, e é acusado de se ter
aproveitado da figura do atual mandatário para se eleger como governador em
2018, ligação que Doria lamenta atualmente.
"Quero
registar aqui meu mais profundo pesar por ter apoiado Jair Bolsonaro, mas não
havia possibilidade de ter defendido a candidatura de Fernando Haddad
(candidado do Partido dos Trabalhadores e rival de Bolsonaro). Bolsonaro
representa um grau de ameaça à democracia tão nocivo quanto a extrema-esquerda",
disse.
"Em dois
anos, o Brasil passou de uma visão de extrema-esquerda, corrupta, prejudicial e
mentirosa, para uma extrema-direita mentirosa, agressiva e com uma enorme
vocação totalitária", salientou.
O Brasil tem
111 mortos e 3.904 infetados pelo novo coronavírus, tendo aumentado para 10 o
número de estados brasileiros a registar óbitos associados à covid-19, anunciou
hoje o Ministério da Saúde.
O novo
coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 640 mil
pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 30.000.
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MYMM // SF
Lusa/fim
MYMM
Lusa/fim
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