PGR pediu informações sobre alegados pagamentos a “individualidades e a um partido”
Maputo, 21 mai
2020 (Lusa) - A procuradora-geral da República moçambicana disse hoje que a
instituição pediu informações aos EUA sobre alegações de pagamentos a
"algumas individualidades e a um partido político" durante um
julgamento do caso das dívidas ocultas no último ano.
"Emitimos,
no dia 04 de dezembro de 2019, logo após o julgamento [num tribunal em Nova
Iorque], um pedido de assistência mútua legal aos Estados Unidos da América
solicitando a referida informação", afirmou Beatriz Buchili, falando na
Assembleia da República (AR).
A
procuradora-geral respondia a perguntas dos deputados sobre o seguimento que a
justiça moçambicana deu às informações produzidas durante um julgamento em Nova
Iorque, que culminou com a absolvição de Jean Boustani, considerado pelas
autoridades moçambicanas o principal arguido do processo das dívidas ocultas.
Um dos deputados
que interpelou a procuradora-geral da República foi Aires Ali, antigo primeiro-ministro
sob a presidência de Armando Guebuza, e agora deputado da Frente de Libertação
de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
Aires Ali pediu à
procuradora-geral da República que identificasse um homem referido no
julgamento através das alcunhas "Nuy", "Nys", "New
Guy" e "New Man" e que supostamente recebeu um milhão de dólares
(910 mil euros) em 2014.
As alcunhas do
homem foram mencionadas durante o julgamento pela agente do Departamento
Federal de Investigações (FBI) dos EUA, Fátima Haque, testemunha da acusação do
processo sobre as dívidas ocultas aberto pela justiça norte-americana.
Fatima Haque
disse que a justiça norte-americana "não foi capaz de identificar de forma
definitiva" a pessoa.
Nas respostas aos
deputados hoje na Assembleia da República, Beatriz Buchili avançou que, logo
após o fim do julgamento em Nova Iorque, em dezembro, as autoridades
moçambicanas pediram informações à contraparte norte-americana, mas ainda não
obtiveram resposta.
"Contra
todas as expetativas, aquele país ainda não se dignou a colaborar. A nossa
expetativa na celeridade da resposta era maior, considerando que a solicitação
foi feita depois do ocorrido julgamento nos Estados Unidos da América",
frisou Beatriz Buchili.
A
procuradora-geral da República assinalou que a referência a nomes em julgamento
não é suficiente para julgar e condenar, devendo ser realizada uma investigação
para o apuramento dos factos alegados.
"Citar nomes
como estando envolvidos em factos que podem consubstanciar crime não é
suficiente para conduzir alguém a julgamento e sua imediata condenação, quanto
mais quando tal citação é feita por um arguido" em sede do seu próprio
processo, frisou Beatriz Buchili.
O principal
arguido do julgamento nos Estados Unidos disse em tribunal que a empresa
Privinvest pagou cinco milhões de dólares (4,5 milhões de euros) para a
campanha presidencial de Filipe Nyusi, atual Presidente da República, em 2014
(um milhão para a campanha própria e quatro milhões para a Frelimo), a pedido
do ex-Presidente Armando Guebuza.
A Frelimo negou
que Filipe Nyusi tenha recebido dinheiro que resultou da operação das dívidas
ocultas.
"Está isento
disto, não recebeu nenhum suborno", disse à Lusa, em novembro, o porta-voz
da Frelimo, Caifadine Manasse.
As dívidas
ocultas estão relacionadas com empréstimos no valor de 2,2 mil milhões de
dólares (dois mil milhões de euros) contraídos em 2013 e 2014 junto das filiais
britânicas dos bancos de investimento Credit Suisse e VTB pelas empresas
estatais moçambicanas Proindicus, Ematum e MAM.
Os empréstimos
foram secretamente avalizados pelo governo moçambicano da altura, sem o
conhecimento do parlamento e do Tribunal Administrativo.
Em Moçambique 20
arguidos respondem pelo processo relativo às dívidas ocultas, 19 dos quais se
encontram detidos e um está em liberdade provisória.
Num processo
autónomo, são arguidas 10 pessoas, entre as quais seis moçambicanos, incluindo
o antigo ministro das Finanças Manuel Chang, detido na África do Sul à espera
de uma decisão sobre pedidos de extradição das autoridades moçambicanas e
norte-americanas, e quatro estrangeiros.
Hoje, a
procuradora-geral da República voltou a acusar os EUA de falta de cooperação
judiciária no caso das dívidas ocultas, imputando a este facto
responsabilidades pela lentidão do processo judicial em Moçambique.
PMA // VM
Lusa/Fim
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