Sergio Moro diz ter sido pressionado por Bolsonaro para aumentar acesso a munições
Brasília, 25 mai
2020 (Lusa) - O ex-ministro da Justiça do Brasil Sergio Moro afirmou que foi
pressionado pelo Presidente, Jair Bolsonaro, para aprovar uma portaria que
aumentou em três vezes o acesso a munições no país.
Em entrevista ao
jornal Estadão, Moro argumentou que não se opôs ao chefe de Estado para não
abrir um novo conflito entre ambos, no momento em que tentava evitar a troca no
comando da Polícia Federal, que, na visão do ex-ministro, se tratava de uma
tentativa de interferência política de Bolsonaro naquele órgão.
A norma em causa,
assinada em 23 de abril, elevou de 200 para 600 o número de projéteis
permitidos anualmente por cada registo de arma.
"A portaria
elaborada no Ministério da Defesa foi assinada por conta da pressão do
Presidente da República e naquele momento eu não poderia abrir outro flanco de
conflito com o chefe de Estado", disse Moro ao Estadão.
O jornal revelou
ainda que, por ordem de Jair Bolsonaro, o Exército usou a assinatura de um
oficial já exonerado na publicação da portaria em causa.
Um dia antes da
publicação do decreto, numa reunião ministerial realizada em 22 de abril,
Bolsonaro afirmou que queria armar a população para evitar a instauração de uma
ditadura no Brasil, determinando a Sergio Moro, à época ministro da Justiça, e
a Fernando Azevedo, ministro da Defesa, que assinassem a portaria.
“Como é fácil
impor uma ditadura no Brasil, como é fácil. O povo está dentro de casa. Por
isso eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme”,
afirmou Bolsonaro, dirigindo-se a dois dos seus ministros, num vídeo divulgado
na sexta-feira pelo Supremo Tribal Federal.
“Peço ao Fernando
[Azevedo e Silva, ministro da Defesa] e ao Moro [Sergio Moro, ex-ministro da
Justiça], por favor, assinem essa portaria hoje [22 de abril] que eu quero dar
(...) um recado [a governadores e prefeitos]. Porque é que eu estou armando o
povo? Porque eu não quero uma ditadura! Não dá para segurar mais",
acrescentou o chefe de Estado.
No vídeo, o
mandatário pediu ainda aos seus ministros para "escancararem a questão do
armamento".
"Eu quero
todo o mundo armado! Que o povo armado jamais será escravizado. E que cada um
faça, exerça o seu papel. Se exponha", reforçou Bolsonaro.
No Brasil,
379.471 armas estão nas mãos da população, segundo dados da Polícia Federal,
citados pelo Estadão.
No vídeo
destacam-se ainda palavrões e injúrias por parte de Bolsonaro a ministros e a
ameaça de demissão “generalizada” por parte do Presidente, a quem não adotasse
a defesa de assuntos defendidos pelo Governo.
A reunião
ministerial em causa é apontada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova sobre
alegada interferência do Presidente, Jair Bolsonaro, na polícia.
O encontro de
ministros ocorreu em 22 de abril, dois dias antes da renúncia de Moro, quando
denunciou "pressões inaceitáveis" por Bolsonaro em relação à Polícia
Federal, um órgão autónomo subordinado ao Judiciário, embora o seu diretor seja
nomeado pelo Presidente da República.
De acordo com o
ex-ministro, Bolsonaro teria exigido a troca do superintendente da Polícia
Federal no Rio de Janeiro naquela reunião, a fim de evitar uma investigação a
familiares e aliados.
MYMM // NFO
Lusa/Fim
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