Juiz do Supremo brasileiro levanta sigilo bancário de parlamentares aliados de Bolsonaro
Brasília, 16 jun 2020 (Lusa) - O juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro Alexandre de Moraes determinou hoje o levantamento do sigilo bancário de parlamentares aliados do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, numa investigação sobre financiamento de atos antidemocráticos.
Segundo o jornal
o Globo, dez deputados e um senador tiveram o seu sigilo bancário levantado,
sendo a maioria filiada ao Partido Social Liberal (PSL), formação política com
a qual Bolsonaro se elegeu Presidente, mas que abandonou no final do ano
passado.
Os deputados do
PSL Daniel Silveira, Alê Silva, Aline Sleutjes, Bia Kicis, Carla Zambelli,
Caroline de Toni, General Girão, Guiga Peixoto, Junio Amaral, assim como o
deputado Otoni de Paula, do Partido Social Cristão (PSC) e o senador Arolde de
Oliveira do Partido Social Democrático (PSD) foram os parlamentares visados na
decisão do magistrado do STF, de acordo com a imprensa local.
Alexandre de
Moraes determinou ainda, num inquérito que decorre em sigilo, que algumas redes
sociais forneçam relatórios sobre pagamentos efetuados a páginas de apoio a
Bolsonaro que fazem apologia a atos antidemocráticos.
A medida visa
descobrir se os ‘bloggers’ e militantes de Bolsonaro estão a ser remunerados
por publicações e ataques a instituições democráticas, que pedem o encerramento
do Supremo, do Congresso, assim como uma intervenção militar.
Carla Zambelli,
uma das deputadas alvo da determinação de Moraes, usou a rede social Twitter
para partilhar uma alegada imagem da sua conta bancária, com um total de 5.868
reais (cerca de 1.500 euros), acrescentando que não é "uma deputada
corrupta".
"Já adianto
aqui o estado atual do meu sigilo bancário, Alexandre de Moraes. Como pode ver,
não sou uma deputada corrupta. Não deveria ser atrás destes que o senhor
deveria usar toda esta agilidade?", questionou Zambelli, uma forte aliada
do Presidente do Brasil.
Já o deputado o
Junio Amaral revelou que apenas soube das determinações do juiz pela imprensa,
acrescentando que os apoiantes de Bolsonaro não têm direitos garantidos.
“Soube pela
imprensa que o meu sigilo bancário estaria a ser quebrado por haver indícios de
financiamento a ‘atos antidemocráticos’. Pouco me importo para o que verão lá,
mas chegamos no extremo. Direitos e garantias fundamentais garantidos, salvo se
apoiante do Presidente”, escreveu no Twitter.
“Não admitem
manifestações espontâneas, sem financiamentos de políticos corruptos (têm muito
dinheiro para doar) e empresas que superfaturam junto ao poder público. Estão
mal-acostumados e usam isso para quebrar o nosso sigilo bancário. Reafirmo, a
intenção é intimidar e ‘fritar’, apenas”, acrescentou o deputado.
Em causa está um
inquérito aberto em 21 de abril, por determinação do magistrado Alexandre de
Moraes, para apurar a organização de manifestações contra a democracia no país.
Nesse sentido, na
manhã de hoje, a polícia brasileira cumpriu mandados de busca e apreensão na
residência de aliados do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, com o intuito de
levantar eventuais provas sobre a organização de protestos antidemocráticos, assim
como quem os financia.
Entre os alvos da
operação estão o deputado federal Daniel Silveira, eleito pelo mesmo partido
que o chefe de Estado brasileiro, o PSL.
O deputado
informou na sua conta pessoal na rede social Twitter sobre a presença dos
agentes da polícia na sua residência.
“Polícia Federal
no meu apartamento. Estou de facto incomodando algumas esferas do velho poder.
E cada dia estarei mais firme nessa guerra!”, escreveu Siqueira.
Também foram alvo
das diligências da polícia o publicitário Sérgio Lima e os empresários Luís
Felipe Belmonte e Otavio Fakhoury.
Os três são
ligados ao Aliança pelo Brasil, partido ainda em processo de formação que foi
fundado no ano passado pelo Presidente brasileiro depois de ter abandonado o
PSL, na sequência de divergências políticas com antigos aliados.
Também foram alvo
das buscas os ‘bloggers’ Allan dos Santos e Alberto Silva.
Num comunicado, a
Polícia Federal explicou apenas que cumpriu, na manhã de hoje, 21 diligências
requeridas pela Procuradoria-Geral da República e determinadas pelo juiz
Alexandre de Morais, do STF.
“As medidas têm o
objetivo de instruir o inquérito n.º 4.828/DF/STF que investiga a origem de
recursos e a estrutura de financiamento de grupos suspeitos da prática de atos
contra a democracia”, explicou a autoridade policial.
Os mandados de
busca e apreensão foram cumpridos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e no Distrito Federal.
MYMM (CYR) // AJO
Comentários
Enviar um comentário