FDS reconhecem que Mocímboa da Praia está em mãos inimigas
Terrorismo em
Cabo Delgado
- Perante
deputados da AR as chefias militares baseadas em Cabo Delgado mostraram grande
preocupação com o porto e aeródromo locais
Numa altura que correm informações de que os terroristas
continuam, desde o último fim-de- -semana em várias aldeias do distrito de
Muidumbe, as Forças de Defesa e Segurança (FDS) finalmente acabaram
reconhecendo e partilhando a informação de que efectivamente o distrito de
Mocímboa da Praia está nas mãos de terroristas, desde meados de Agosto.
A confirmação, feita pelo Comando Conjunto das Forças de
Defesa e Segurança estacionado em Cabo Delgado, aconteceu há dias perante
membros da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de
Legalidade (CACDHL) da Assembleia da República (AR), que foi mandada [apesar do
desacordo da Renamo] para ir averiguar as denúncias de violação dos direitos
humanos na zona centro e em Cabo Delgado.
“Neste momento há preocupação do Comando Conjunto pelo
facto de o distrito de Mocímboa da Praia estar nas mãos dos terroristas,
sobretudo o porto e o aeroporto” – refere o relatório da Comissão parlamentar
que esteve em Manica, Sofala e Cabo Delgado.
O assunto da ocupação ou não de Mocímboa da Praia,
particularmente da sua vila sede, do porto e do aeródromo local foi sempre
evitado pelas chefias das Forças de Defesa e Segurança. No último
pronunciamento sobre este assunto, o Comandante Geral da Polícia, Bernardino
Rafael, disse que a vila, o porto e o aeródromo não estavam necessariamente sob
controlo terrorista. Mas também, admitiu ele, as FDS não estavam lá. Ou seja,
ficou a ideia de que aqueles locais importantes daquele que é também um
distrito estratégico para a província de Cabo Delgado tinham-se tornado numa
terra sem ninguém.
Entretanto, apesar da nega, várias fontes, incluindo
militares, reconheciam em fóruns restritos que desde o ataque e ocupação de
meados de Agosto, os terroristas nunca saíram de Mocímboa de Praia. Aliás, os
bandos têm estado a procurar expandir o raio da ocupação, descendo para aldeias
remotas da vila sede, incluindo o cruzamento de Awasse, onde está instalada a
já vandalizada subestação da Electricidade de Moçambique.
Até porque todos os distritos a norte estão, há meses, sem
corrente eléctrica da rede nacional, exactamente em resultado da vandalização
daquele importante infra-estrutura eléctrica. Diante dos relatos que
conseguiram apurar, tanto a partir das vítimas acolhidas em centros de
reassentamen-to, assim como das próprias FDS e de organizações de assistência
humanitária, o relatório da Primeira Comissão descreve e resume a situação de
segurança em Cabo Delgado como “grave”.
“Em termos de segurança de pessoas e bens do Estado e de
particulares, a situação é grave, devido aos ataques terroristas que se
verificam nos distritos do nordeste e centro da província” – indica o
relatório.
Em relação à violação dos direitos humanos, o relatório
aponta, citando as FDS, que os terroristas têm estado a sofisticar a sua
propaganda, recorrendo à falsificação de vídeos que posteriormente são
partilhados nas redes sociais, supostamente com objectivo de manchar a imagem
das FDS.
Por outro lado, do encontro com o Conselho Islâmico na
província de Cabo Delgado ficou a lamentação deste grupo pelo facto de, segundo
disseram, o Governo não ter dado ouvidos aos alertas que insistentemente eram
partilhados sobre a existência de práticas radicais estranhas ao islão.
Nas conclusões e tendo em conta a grande missão que tinha, a
Comissão da AR que, por desacordo não incluiu membros da Renamo, refere que não
foram encontradas evidências sobre práticas que consubstanciem violação de
direitos humanos praticados pelas FDS.
Há sim práticas que violam gravemente os direitos humanos
protagonizados por grupos terroristas, daí que o seguimento psicológico dos
sobreviventes apresenta-se como fundamental.
MEDIA FAX – 05.11.2020
Comentários
Enviar um comentário