Sobreviventes do massacre descrevem “execuções agoniantes” em campo de futebol de Muidumbe
Decapitações,
que terão sido realizadas entre os dias 6 a 8 de novembro, tinham sido
desmentidas pelo governador de Cabo Delgado
Sobreviventes do
massacre de Muidumbe relataram à VOA nesta segunda-feira, 16, o “desespero” e a
“agonia” de mais de 50 pessoas decapitadas num campo de futebol local,
confirmando os rumores das execuções em massa perpetradas por grupos armados em
Cabo Delgado.
Na semana
passada, vários órgãos de comunicação moçambicanos e internacionais, relataram
o sequestro de 50 pessoas que depois foram decapitadas num campo de futebol,
que se transformou em átrio de execuções, na aldeia de Muatide.
As decapitações,
que terão sido realizadas entre os dias 6 a 8 de novembro, foram desmentidas
poucos dias depois pelo governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, mas
condenadas “veementemente” pelo secretário-geral da Organização das Nações
Unidas (ONU), António Guterres, que instou as autoridades a conduzirem uma
investigação.
“As pessoas estão
a morrer”, disse à VOA um professor do ensino secundário, que sobreviveu ao
massacre e que se encontra refugiado em Mueda.
“As pessoas são
sequestradas das aldeias e seus esconderijos e, ou, ao tentar ir recuperar
alguma coisa (alimentos) em casa, logo são apanhadas e, depois levada para sua
execução no campo” precisou.
Outro
sobrevivente disse que várias vítimas decapitadas foram levadas de aldeias
vizinhas de Muatide e executadas no campo de futebol da aldeia, usado para o
extermínio.
“Estas
decapitações estão a acontecer em Muatide. Quando os insurgentes entraram no primeiro
dia não fizeram isso, mas no segundo e terceiro dias levaram pessoas das
aldeias para o campo de Muatide e executaram” acrescentou.
O professor e
outras pessoas tinham regressado à aldeia para cumprir o aviso do administrador
para a retoma obrigatória, no dia 2 de Dezembro, das atividades paralisadas
desde abril, após a ocupação da vila pelos insurgentes.
“Algumas pessoas
decapitadas conheço por nome, outras não por nome, mas sabia que viviam naquele
lugar. Em Muatide a primeira pessoa a ser decapitada foi um professor, já em
Muambula foram decapitados alguns régulos e outras pessoas”, revelou outro
sobrevivente.
O portal de
noticias Pinnacle News avançou que centenas de vítimas foram registadas no
massacre de Muatide e “cerca de 40 decapitações” noutras aldeias, incluindo de
muitas crianças com menos de 15 anos, surpreendidas num rito de iniciação.
A notícia da descoberta
de corpos desmembrados de pelo menos “cinco adultos e 15 menores” encontrados
numa mata de Muidumbe circulou poucos dias depois da nova invasão dos
insurgentes àquele distrito do interior centro de Cabo Delgado desde o início
do mês.
Segundo as nossas
fontes, o grupo continua a controlar a vila sede de Muidumbe e dezenas de
aldeias do distrito, a par de Mocímboa da Praia, mais a norte.
A província de
Cabo Delgado está a braços com ataques de insurgentes há três anos, e a
estimativa de mortes é agora de duas mil pessoas, entre civis e militares.
Dados oficiais
indicam haver, pelo menos, 435 mil deslocados internos devido a violência
protagonizada por grupos, localmente conhecidos por al-shabab, que contam com
alguma simpatia do Estado Islâmico, que já reivindicou vários ataques do grupo
nos distritos do norte e centro de Cabo Delgado.
VOA – 16.11.2020
Comentários
Enviar um comentário